Francisco José Jr: “Há sim um desejo de continuarmos na administração”

O prefeito Francisco José Júnior recebeu equipe do jornal O Mossoroense na última sexta-feira, e durante uma hora, respondeu questionamentos que envolvem a administração municipal e os rumos políticos que serão seguidos em 2016. Veja a entrevista na íntegra.

Por: Márcio Costa – Editor Geral

O Mossoroense – O senhor é candidato a reeleição?

Francisco José Jr – Olha Márcio. Em primeiro lugar quero dizer que estou tendo um ano a menos do que qualquer gestor. Nossa gestão tem procurado enfrentar, resolver problemas. Outros gestores preferiram fazer praça, calçamento, né? Asfalto. Nós estamos preocupados em melhorar coletivamente a vida das pessoas, principalmente, apostando também em segmentos que possam fazer com que a cidade se desenvolva. Obras que tragam retorno para a cidade. E dois anos, três anos, é muito curto. Há sim um desejo de continuarmos na administração, até por quer acreditamos que vamos conseguir melhorar a vida das pessoas como um todo.

OM – Existem divergências de especialistas em Direito quanto a possibilidade da sua reeleição. Como o senhor avalia estas divergências?

FJJ – Com muita tranquilidade. Acho que ninguém mais nem fala nisso. Na última decisão do TSE ela já tinha sido favorável a minha situação e depois desta decisão, houve uma consulta do deputado Rodrigo Maia, do PP, e mais uma vez esta consulta disse que estava consolidada esta questão. Então não há nenhuma dúvida jurídica com relação a isso.

OM – Recentemente o senhor perdeu o apoio do vice-prefeito Luís Carlos, que anunciou rompimento com a administração municipal. Como o senhor avalia a posição do vice-prefeito Luís Carlos?

FJJ – Olha, foi uma posição individual do vice-prefeito. Não foi por falta de espaço, não foi por falta de diálogo. É tanto que tem gestões que o vice passa os quatro anos e não assume nenhuma vez. Em dois anos ele assumiu por 15 dias a prefeitura. Nós temos uma oração toda sexta-feira na prefeitura que ele ia. E depois da oração nos conversávamos sempre toda semana, e depois o vice deixou de ir. Acredito que foi uma posição isolada. O partido já deu inclusive uma nota em relação a isso. Sobre esta questão acho que ele tem que resolver com o partido. Ele sempre foi muito de partido, e tomou uma posição contrária. A gente lamenta. Tenho respeito, carinho, consideração, amizade com Luís. É uma pessoa espetacular, mas infelizmente alguns dos seus assessores pensam diferente, tem uma linha diferente. Mas é um problema do PT, espero que ele retorne o quanto antes para o Governo.

OM – Com o rompimento, Luís Carlos naturalmente abre a vaga de vice, que poderá voltar a ser do PT, ou não, em seu projeto de reeleição. Como o senhor vê o leque de alianças para o futuro?

FJJ – Primeiro Márcio, quero dizer que tomei uma decisão. Ontem estive com o governador para também comunica-lo e dizer como seria o início da minha gestão em 2016. A situação do País é tão difícil, tão critica, que 2015 foi o pior ano da história do País em relação a queda de receitas, em relação a escândalos, em relação a crise política, crise hídrica. Hoje o gestor que quiser continuar na política não pode pensar em administrar e se preocupar com questão politica. Já tinha reunido minha equipe e fui comunica-lo e ele aprovou, e disse como presidente de partido, que eu estava fazendo o certo. Quero dizer que esta questão de vice nós teremos muito tempo para discutir. Eu vou tomar algumas medidas que não vou anunciar agora, mas que são medidas que não levaremos em conta as questões politicas, e sim a questão administrativa. Serão medidas austeras e com isso vamos ajustar, melhorar cada vez mais, usar a criatividade. Reduzir, otimizar, mas ao mesmo tempo deixa-la mais eficiente. Vamos deixar a política de lado, e vamos nos concentrar na gestão e cada vez mais melhorar a vida das pessoas.

OM – Em ano de eleição é óbvio que chegará o momento que tratar de política. Vai começar o ano priorizando questões administrativas, mas chegará o momento que voltará suas atenções para a política. Quando será iniciado o processo de articulações visando a eleição?

FJJ – Com esta mudança da lei eleitoral as convenções serão em julho. Serão 45 dias de campanha. Lógico que no período de convenções nos iremos discutir, pelo menos uns 15 dias antes, como iremos ver a questão das coligações, e essa questão de partidos. Agora, quem quiser ficar neste projeto, terá que entender que a nossa administração a partir deste ano de 2016, será uma administração focada exclusivamente na gestão. As pessoas terão que entender que em primeiro lugar estarão as pessoas, estarão a coletividade. Acima de interesses políticos. Acima de interesses partidários. Então, aquelas pessoas que entenderem isso, que quiserem ficar no projeto, serão muito bem vindas e acredito que darão uma grande contribuição.

OM – Nos bastidores circula a informação de que há um distanciamento do senhor com o governador Robinson Faria. Houve realmente este distanciamento? O que teria causado esta mudança?

FJJ – Nossa relação é uma relação de amizade, cordialidade, respeito confiança, reciprocidade e principalmente de gratidão. Todo evento familiar ele me chama. Pra você ter uma ideia, passei o carnaval com minha esposa, com ele e com a esposa dele. É uma relação de amizade independente de questões políticas. É uma amizade que passou do meu pai, quando era deputado, para mim. É uma amizade de praticamente 14 anos. É uma relação que nunca foi estremecida, pelo contrário, ela está cada vez mais fortalecia. Mas temos que saber separar a questão da amizade, da questão política, da questão institucional. Até por que ele como Governador tem uma missão, suas obrigações, e eu, aqui como gestor municipal também tenho. Toda vida que vou a Natal tenho cobrado a questão do aeroporto, eu tenho cobrado a questão das melhorias da saúde, por que Mossoró vem bancado isso sozinho, há muito tempo. Tivemos a oportunidade de resolver isso na gestão anterior, mas infelizmente a prioridade não foi a cidade de Mossoró e sim a cidade de Caicó. Antes só recebia Natal e na gestão passada a cidade de Caicó recebeu esta complementação, mesmo tendo uma gestora de Mossoró. Acreditávamos que o Governador em 2015 iria ajudar a cidade na questão da saúde. Não foi possível. Ontem (quinta-feira), tive uma conversa firme com ele. Falando da importância, falando que Mossoró sozinha não tinha como bancar uma saúde para atender 68 cidades, para atender quase um milhão de pessoas, recebendo recursos para 260 mil pessoas. Ele ficou de ter uma reunião com o secretário de saúde. Sábado (ontem) ele cumprirá agenda na região da Costa Branca e ficou de me dar uma posição. Sei separar as duas coisas. A relação é a melhor possível. Tudo que fazemos a gente vem conversado e temos tomado decisões conjuntas.

OM – Você sente que estas cobranças incomodam o Governador ou ele tem encarado de forma madura?

FJJ – Olhe, pelo menos ele nunca me reclamou disso. Pela amizade e pela confiança se houvesse ele teria me dito. Ele entende, e sabe da importância. Ele sabe que em Mossoró ele teve praticamente 81% da votação dos eleitores locais. É algo igual a outras votações de pessoas que moravam aqui. Então, Mossoró o adotou, o acolheu, e acreditou, e também espera a reciprocidade. Acreditamos quem em 2016 ele terá esta sensibilidade. Já tem a questão do Ronda Cidadã que já anunciou que traria, já tem o Restaurante Popular, já tem a questão do aeroporto, mas o principal que considero é a ajuda com a complementação dos recursos para a saúde.

OM – Qual a avaliação que o senhor faz do primeiro ano de mandato do Governador?

FJJ – Olhe, todo primeiro ano temos que fazer uma avaliação sendo mais sensível do que nos próximos anos, por que é um momento de ajuste e de adaptação. Como eu, ele veio do legislativo, e entrou no executivo. A equipe ainda está pegando. Pegou muitas dívidas, mas é uma gestão que tem procurado o diálogo, tem tido a coragem de ir pras ruas, e está próximo da população. Acredito que em meio às dificuldades não vou dizer que foi uma gestão excelente, nem vou dizer que foi regular. Mas uma gestão boa se avaliando o último ano da última gestão. Então foi um ano de avanço, mas que tem que melhorar muito ainda.

OM – O presidente da Câmara, Jório Nogueira, é integrante do seu partido, aliado de primeiro momento, mas tem externado insatisfações pontuais. O que estaria gerando esta insatisfação?

FJJ – Olhe, o meu relacionamento com Jório também é de muita amizade, de muita cordialidade. Acredito que algumas críticas que ele fez, não foram a mim, mas a alguns secretários do governo. No sentido de querer ajudar, de querer melhorar. Toda crítica que seja construtiva a gente tentar ajustar. Inclusive tivemos antes de ontem uma conversa, um diálogo, e essa relação está cada vez mais firme, tanto na questão pessoal, como na questão politica. Então estamos afinados totalmente em relação a 2016.

OM – Jório externou em alguns momentos o interesse de ser candidato a prefeito. Se houver algum problema que impeça sua candidatura você apoiaria o nome dele para a prefeitura de Mossoró?

FJJ – Em primeiro lugar, todo o político que está na política tem que está ali por vocação, não por emprego. Ele tem que gostar, e principalmente saber fazer do seu mandato o melhor para as pessoas. Quando for convocado para qualquer missão ele tem que está apto. Qualquer politico que não pensar no futuro é por que não gosta da política. É normal que Jório pense em galgar outros degraus, com relação à Assembleia, em relação a qualquer outro projeto. Nunca ele externou este desejo. Nunca ele falou que queria ser candidato, mesmo numa possibilidade de que eu não pudesse. Mas é uma decisão que não parte de mim. É uma decisão que parte do partido, dos filiados, do próprio governador. Então eu não poderia afirmar isso, por que não depende exclusivamente de mim. Se fosse uma decisão do partido, com certeza eu iria obedecer por que sou partidário.

OM – Qual sua avaliação com relação à Câmara. Existe uma boa relação com os vereadores?

FJJ – Existe. Sempre recebo vereadores na minha casa. Recebo também no meu gabinete. Tenho procurado fazer reuniões, inclusive, antes de enviar projetos para a Câmara, diferente de outras gestões que enviavam projetos que tinham que ser aprovados em 24h sem nenhum conhecimento. Quando era presidente da Câmara fiz uma lei que determinava a obrigatoriedade do projeto passar oito dias na Câmara para que os vereadores pudessem entender. Além disso, reunimos os vereadores com técnicos que explicam os projetos, que também é algo inovador na nossa gestão. Existem algumas insatisfações, não no sentido de relacionamento ou de diálogo. Mas existem insatisfações no sentido do não atendimento de algumas reivindicações, de calçamento, praças, escolas, creches não terem sido construídas, mas também devido ao momento de ter tido R$ 100 milhões a menos do que em 2014. Acreditamos que a vinda desta cessão dos royalties fará com que nos iremos discutir isso numa audiência pública, para ouvir a opinião, não só dos vereadores, mas da sociedade, no sentido de poder, de repente, atender as reivindicações dos mossoroenses. Se eu tivesse recebido o mesmo recurso de 2014 eu teria hoje quase R$ 80 milhões para investir em obras. Então Mossoró estaria numa situação bem melhor do que 2014 que foi um ano muito bom quando nossa administração teve uma ótima avaliação.

OM – Existe a informação de que quatro vereadores governistas estariam preparados para deixar o governo para adotar uma posição de independência. Existe realmente esta possibilidade da bancada governista começar o ano reduzida?

FJJ – Olha Márcio, todos nós temos o livre arbítrio. Não só nas decisões pessoais e empresariais. Na política é da mesma forma. Principalmente na democracia. Tanto do povo escolher, como do vereador optar por ser oposição ou situação.   Então não posso avaliar. Não fui comunicado de nada. Não vi nenhum movimento em relação a isso. Só sei de um vereador, sobre uma reunião com o presidente do PSDB, mas que não me comunicou nada ainda. Nem a mim, nem ao líder da bancada, vereador Jadson. Mas é como eu disse. Este ano será diferente. O vereador que quiser ficar na nossa bancada, ele saberá dos nossos propósitos, que são os melhores possíveis. De humanizar nossa saúde, por exemplo, cada vez mais. Já temos o atendimento mais rápido do Nordeste, e um dos melhores do País. Temos que melhorar o atendimento do profissional com o paciente, e este é um desafio. Acredito que politicamente 2016 não haverá algo desta maneira. Se houver, a gente entende, respeita, e vamos continuar trabalhando com a mesma pegada.

OM – O vereador Francisco Carlos (PV) destacou em entrevista ao jornal O Mossoroense que com o prefeito faltava diálogo e sobrava ansiedade. O senhor se considera uma pessoa ansiosa?

FJJ – Ansiosa? De maneira nenhuma. Sou uma pessoa resolutiva. São duas coisas totalmente diferentes. A questão do vereador Francisco Carlos, ele nunca procurou marcar uma audiência comigo. Se ele tiver, me apresente este pedido. Então ele não pode dizer que falta diálogo. Gostaria de dizer que não existe isso, e nossa gestão está disposta a receber qualquer sugestão, qualquer crítica que seja construtiva. Me admiro, que muitos momentos que fazemos não tem participação de nenhum vereador da oposição. Só existe vereador da oposição quando surge um problema que eles possam tirar proveito político. Quando o “circo está pegando fogo”. Mas nenhum vem para sugerir, para antecipar a solução do problema, e sim quando o problema está instalado. Eles vem para se aproveitar daquele momento. Estamos de portas abertas, tanto da minha casa como do gabinete, para recebe-los.

OM – A ex-governadora Rosalba Ciarlini tem se postado como pré-candidata a prefeitura de Mossoró. Existe algum temor por esta candidatura?

FJJ – De maneira nenhuma. Como eu disse, qualquer um pode ser candidato a prefeito. Faz parte do processo democrático. Não tenho nenhum temor em relação a enfrentar Rosalba, ou qualquer candidato.

OM – O senhor acredita na candidatura dela?

FJJ – Olhe. Confesso que isso não tem me preocupado, Márcio. Não por não respeitar a liderança de Rosalba. Não é em relação a isso. É por que Rosalba teve momentos na administração e foi avaliada como governadora, onde Mossoró tinha uma expectativa grandiosa, e ela se deparou com uma realidade que estou enfrentando e não conseguiu mostrar avanços na questão do governo. Saiu com uma das piores avaliações de todos os governadores que já passaram. Pra você ter uma ideia, Mossoró teve uma única obra que foi a reforma da rodoviária. Foi a única obra em quatro anos. Mas é um direito dela. A gente sabe que é uma pessoa que foi prefeita três vezes e que vai disputar de igual pra igual com qualquer candidato. Mas não estou realmente preocupado com as questões políticas neste momento. Juridicamente já ouvi vários advogados de renome que afirmam que ela não será candidata. Algo também estranho que na última decisão do TSE ela foi acusada num processo e foi absolvida noutro. Até hoje não saíram os acórdãos. Isso é algo que não é comum. Algumas linhas jurídicas dizem que não sabem nem como vai sair. Nem eles sabem, né? Mas não sou jurista, não sei. Acredito que ela terá dificuldades nesta questão jurídica.

OM – Caso Rosalba não seja candidata e resolva apoiar seu projeto de reeleição, o apoio será bem recebido?

FJJ – Olha, o PP, partido que ela hoje está filiada, é um partido que está aliado com o governo estadual, é aliado com o governo federal, onde nosso partido também se encontra. Seria normal, assim como o PCdoB. Não teria nenhuma objeção em relação a partidos. Mas como disse, não é uma decisão minha, Márcio. É uma decisão do partido. Será uma decisão no momento certo com os partidos aliados que estiverem em relação a esta questão. Política se faz somando, não dividindo. Mas é uma decisão que não posso dizer agora por que não depende de mim.

OM – O senhor inicia o ano assumindo erros que foram registrados no ano de 2015. Que erros teriam sido estes?

FJJ – Todos nós seres humanos somos passíveis de erros. O que posso citar como erro é que em alguns momentos na administração pesei questões políticas com questões coletivas, que em 2016 eu disse que não iria repetir. A gente tem que ter a humildade de reconhecer qualquer tipo de erro. Outro erro que acho que deva ter cometido foi no sentido do meu espírito de melhorar e ajudar as pessoas ter me sobrecarregado. Quando fui presidente da Câmara consegui encaminhar muitos avanços e fui escolhido como presidente da Federação das Câmaras. Em seis meses conseguimos melhorar as condições financeiras das Câmaras de todo o Rio Grande do Norte. O presidente da Câmara trabalha muito, mas não tanto quando o prefeito. A minha intenção era a de deixar a mesma contribuição aos municípios do Estado. E com isso comprometia a dedicação exclusiva a Mossoró, por querer resolver todos os problemas de todos os municípios do Estado. Pra isso eu tinha que ir a Brasília, falar com secretários, ministros, pensando na minha cidade, mas também nos outros municípios. Acredito que tenha sido um erro, mas algo que pode ser melhorado. Acredito que em 2016 vamos ajustar tudo isso. Tenho convicção, muita fé, sou uma pessoa muito motivada, pontual, faço com que as coisas aconteçam. E vou me dedicar a melhorar cada vez mais. A crise que estamos passando, acredito, pelo pouco que estou na prefeitura, pelo tempo que estou na política, poderia ser pior com o fechamento de escolas, creches, postos de saúde ou até mesmo a prefeitura. O nosso governo não permitiu servidores fantasmas, demitimos mais de 100. Determinamos que mais de 200 voltassem a trabalhar. Nós cortamos horas extras que eram complementos de salários. Cortamos plantões que eram complemento de salários. Se não tivéssemos feitos isso, hoje não teríamos manter a prefeitura funcionando.

OM – Um dos principais projetos da sua gestão se voltava para a restruturação do transporte urbano. Foi um projeto que acabou sendo marcado por uma série de falhas. O que deu errado no projeto?

FJJ – Primeiro o nosso governo apostou nas questões macro. Nas questões coletivas. Em problemas que nenhum gestor teve coragem de enfrentar por que sabia que para enfrentar teria desgaste. Então preferiam fazer a obra do cal, tijolo e cimento. Nós fizemos algumas apostas macro. Antes de concluir a resposta queria citar exemplos. A implantação das BIC’s rendeu a maior redução nos homicídios dos últimos cinco anos. Na saúde, por exemplo, tínhamos uma UTI adulto com nove leitos para atender Mossoró e 68 municípios no Hospital Tarcísio Maia. Em dois anos de gestão nós temos hoje uma UTI pública com nove leitos. Nós dobramos. Imagine ai, quantas vidas iremos salvar com estes investimentos na saúde e na segurança. Foram apostas que nunca ninguém fez, por que por mais que se faça nas áreas da saúde, mais a população vai pedir, mais vai reclamar. O mesmo ocorre com a segurança. Mas a nossa missão é esta. De melhorar e de salvar a vida das pessoas. Esta questão da mobilidade urbana é algo muito complexo. Na nossa cidade tinha táxis de fora que concorriam com os táxis locais. Com isso os taxistas não tinham mercado, e tinham que se dedicar ao táxi lotação que atendia os adultos. Com isso deixavam os estudantes os deficientes e os idosos que os ônibus levavam de graça, ou com desconto de 50%. O sistema de transporte público de Mossoró quebrou. Tínhamos cerca de 14 ônibus funcionando, e só funcionavam nos horários e nas linhas que davam lucro. Naquelas que “empatava” eles retiravam o ônibus de circulação. Por que? Por que o contrato estava precário, tinha se vencido e a prefeitura não tinha nenhum papel para exigir. Outros gestores fizeram licitações antes e deram desertas. Pra resolver isso eu teria que mexer com os taxistas de fora, com a questão do centro da cidade, em todo o processo. Eu tive a coragem e fizemos. Hoje mostra que nossa aposta deu certo. Não em relação ainda ao resultado final do transporte público, que ainda esta a desejar, e a gente sabe disso. Mas estávamos certo em resolver o problema. Agora quando publicamos a licitação, 13 empresa compraram o edital e 12 irão concorrer. O que isso quer dizer? Depois da licitação na primeira quinzena de fevereiro, irá ganhar a empresa que tiver os ônibus mais novos e o menor preço da tarifa. É uma aposta que fizemos que vamos colher os resultados, acredito a partir de março ou abril.

OM – O ano começou com a quebra do calendário de pagamento do funcionalismo municipal. Teremos um ano de 2016 marcado por atrasos no salário dos servidores?

FJJ – Em dezembro completou 24 meses que assumimos o governo. Destes, atrasamos apenas um mês, em virtude da diminuição dos repasses que ocasionou atraso em mais de 60% das prefeituras. Infelizmente aconteceu isso. Avisamos antes que iriamos pagar o décimo terceiro salário dentro do mês, e haveria este atraso, não pela falta de planejamento, mas pela diminuição de receitas do Governo Federal. É preciso deixar claro que a Constituição diz que só existe atraso após o quinto útil de cada mês. O quinto dia útil caiu no dia 8 e já havíamos pago 80% da folha de pagamento. Só faltam receber 20% que pretendemos pagar na terça-feira.

OM – Isso significa que em fevereiro teremos atraso no pagamento?

FJJ – Depois de fazer os pagamentos vamos reunir a equipe e com os ajustes que pretendemos fazer, que serão radicais, vamos aplicar soluções criativas e austeras, e a partir dai, assim como foi em 23 meses da nossa gestão, vamos apresentar e respeitar o calendário de pagamento de 2016.

OM – O município enfrenta problemas com repasses para empresas terceirizadas. Há alguma expectativa para que este problema seja sanado?

FJJ – Existe. Mas gostaria de afirmar que este problema das terceirizadas atinge no mínimo 90% dos municípios do País. É algo que nos preocupa, mas diante da crise em determinado momento eu tive que optar por pagar a terceirizada ou os serviços da saúde. Poderíamos ter deixado de fazer partos ou cirurgias, sem ter UTI´s funcionando e isso colocaria em risco à vida das pessoas. Eu não poderia ter sido irresponsável na época do atraso de pagar as terceirizadas e deixar as pessoas morrerem. Por isso estamos buscando esta complementação de recursos para fazer as duas coisas. Há uma expectativa do recurso dos royalties entrar ainda no mês de janeiro. Assim que entrar nos vamos priorizar a questão dos serviços terceirizados. Vamos quitar o pagamento e planejar, assim como estamos planejando toda a administração para não atrasar mais.

OM – Existe uma “guerra” pública travada entre médicos e a cooperativa que contrata os profissionais que atuam em UBS´s e UPA´s de Mossoró. Até que ponto este impasse poderá prejudicar o atendimento no município?

FJJ – Existem os médicos servidores do município, e médicos funcionários de cooperativas que a prefeitura contrata, e não são nossos servidores. Sobre esta questão que você pontuou foi a insatisfação de um médico de uma cooperativa em virtude também de atrasos que não acontecem somente em Mossoró. Alguns atrasos com 30 dias, outros com 60, mas nunca com 90, o que resultaria em rescisão de contrato. Temos mantido isso com dificuldade e acreditamos que quando recebermos o complemento não iremos mais atrasar. Então é um problema da cooperativa com o médico e não com a prefeitura.

OM – No dia 13 de dezembro foi apresentado o projeto de construção do santuário de Santa Luzia que acabou cercado de polêmica, entre elas, o fato de que a prefeitura não irá mais executar o projeto. O que o senhor tem a falar deste episódio?

FJJ – Na realidade não houve polêmica. Na verdade existia uma ideia. Em 2014 quando eu era vereador fiz um pronunciamento preocupado com uma realidade. Temos petróleo, fruticultura e sal, todas atividades em dificuldade, cada uma por motivos diferentes. Tínhamos esta visão e quando assumimos a prefeitura houve um pedido da Diocese e prometemos atender por que ainda acredito que o turismo irá aquecer 52 segmentos e será uma grande válvula para o desenvolvimento da cidade.  Um projeto deste envolve topografia, questões ambientais. É  um projeto muito complexo e que demorou um ano para ser elaborado. Já concluímos o projeto básico e receberemos até o final do mês o projeto executivo. Por que não vamos construir? Primeiro: pela questão da crise. Segundo: pelo fato do termos um estado laico. Não vamos colocar recursos do município, nem vamos sacrificar recursos do Governo do Estado nem do Governo Federal. Então vamos recorrer a criatividade. De trazer o benefício para a cidade sem gastar recursos públicos e com um atenuante. Além da prefeitura não gastar recursos públicos passaria a receber parte dos recursos que forem explorados neste complexo. Tivemos um diálogo com a Diocese, que viu o projeto em detalhes, viu a intenção da prefeitura e surgiu a preocupação para manter a igreja para cinco mil pessoas. A responsabilidade de gerir seria da igreja, mas a manutenção ficaria a cargo da empresa que assumirá o projeto. Dentro deste tema é preciso falar que em 20 anos de governo Rosalba e Fafá recebemos mais de R$ 10 bilhões em royalties e não temos nenhuma obra voltada para que o município deixe de depender do sal, do petróleo e da fruticultura.  Isso tem que ser dito. Estamos vendo esta questão de colocar Mossoró no cenário nacional e internacional e atrair investidores para investir no polo cloro químico e energético. Já existem empresários para investir nestes dois segmentos. Estamos procurando algo que venha a fortalecer as três cadeias atuais e abrir duas novas cadeias produtivas na nossa cidade.

OM – A crise financeira que atinge os municípios tem extinguido grandes eventos patrocinados pelas prefeituras. Existe algum risco do Mossoró Cidade Junina não ser realizado em 2016?

FJJ – Não existe nenhum risco do evento não ser realizado. Temos números que mostram que a edição do ano passado foi uma das maiores já realizadas, da quadrilha ao público presente. O investimento que a prefeitura fez da ordem de cerca de R$ 3 milhões rendeu algo em torno de R$ 10 milhões. É algo que realmente não pode deixar de existir. Isso sem falar da importância social e cultural. Estamos concentrados nesta reforma que já informamos, e em fevereiro  vamos nos concentrar no planejamento do Cidade Junina, para que o edital seja lançado bem antes e não existir nenhum risco do evento não acontecer.

OM – A empresa contratada em 2015 para executar o projeto do Mossoró Cidade Junina enfrentou alguns problemas ligados ao evento. Como você avalia o registro destes problemas?

FJJ – É preciso destacar que o evento teve o maior sucesso de público dos últimos tempos e foi também o mais seguro. Tiveram falhas? Claro que teve falhas. E destas falhas nenhuma foi  culpa do município. Toda a programação de pagamentos foi cumprida com a empresa durante a execução do evento. Agora, este evento durante muitos anos, das 19 edições, foi feito por uma única empresa, que ganhou por licitação. Não vou entrar neste mérito, nem estou criticando, até por que é uma empresa conceituada, uma empresa respeitada que é a Gondim Garcia. A nova empresa já tinha realizado outros eventos, não em cidades do porte de Mossoró, mas também não estou defendendo. As falhas podem ter ocorrido por falta de experiência. No ano retrasado, recebi um orçamento da gestão de Cláudia Regina no valor de R$ 4,7 milhões. Na nossa gestão reduzimos, e provamos, que daria para fazer o evento com menos recursos e que fosse sucesso, como foi o caso do “Pingo da Mêi Dia” e foi tudo. Para se ter uma ideia, os barraqueiros e ambulantes venderam 30% a mais do que no ano passado. O evento foi um sucesso. No ano passado apareceram 14 empresas interessadas em realizar o evento, e a vencedora apresentou uma proposta de orçamento com R$ 700 mil a menos do que na edição anterior. Se a empresa está devendo alguém eu não sei. O município está devendo menos de 2% do que foi contratado e iremos pagar ainda em janeiro.

OM – Vereadores da oposição criticavam a mudança de estilo e afirmavam sentir saudades do “prefeito interino”. O senhor iniciou o ano destacando justamente que o “prefeito interino” estaria de volta. Os opositores tinham razão quando falavam que existiu mudança nos seus posicionamentos?

FJJ – Quero deixar claro que o prefeito interino nunca saiu. Ele continua o mesmo. O que acontece, como já disse aqui, cometi uns erros e quero consertar.  Sempre mantive a mesma quantidade de horas de trabalho, o mesmo compromisso, e o mesmo foco de melhorar nossa gestão e a qualidade de vida das pessoas que é o nosso foco maior. Em 2014 fizemos ajustes e com os recursos que tínhamos fizemos muita coisa em pouco tempo.  Com isso tivemos um resultado satisfatório de aprovação da população e de aprovação política. Todos os nossos candidatos foram eleitos com votação consagradora. Em 2014 nos enxugamos e em 2015 iriamos “nadar de braçadas”, por que tínhamos a convicção de que teríamos o apoio do Governo do Estado e de vários políticos que elegemos.  Em 2014 não tivemos o apoio de ninguém e fizemos um excelente governo. Mas em 2015 veio a crise, que não veio só para Mossoró, mas para todos os entes  que não tiveram como ajudar. Mossoró perdeu R$ 100 milhões em 2015. Raciocinem ai, que após pagar nossos débitos hoje teríamos cerca de R$ 80 milhões para investir em saúde, educação, obras e outros setores. O que mudou na realidade não foi o interino. O que mudou foi o comportamento dos vereadores da oposição. Que naquela momento estavam desarmados de questões políticas. Eles estavam com o intuito de ajudar. Alguns estavam no Governo e depois as questões políticas ficaram acima das questões coletivas. Passamos a ter uma opinião mais raivosa, do que responsável. Mas a gente respeita. Sabe que é importante o papel da oposição, até para cobrar mais do gestor para que ele possa se dedicar mais. Fui vereador da oposição e respeito. Assim com eles pediram para o interino voltar posso pedir também que eles tenham este sentimento de coletividade, de responsabilidade de separar o palanque político e somente discutir política na época das eleições.

OM – O ano de 2015 encerrou com uma operação que investiga corrupção na Semob. O senhor foi surpreendido com a operação?

FJJ – Com certeza fui surpreendido. O que aconteceu foi que houve uma denúncia de um vereador, e quando surgiu a denúncia, determinei que a secretaria de Administração fizesse um levantamento não só da Secretaria de Mobilidade, mas de todos os servidores da prefeitura. E olhe que estou falando de quase 6 mil servidores. Nossa gestão sempre foi combativa a esta questão. A nossa gestão foi a única que fez uma auditoria e entregou  uma cópia ao Ministério Público. Nossa gestão foi a única que exonerou 115 servidores que recebiam salário e moravam em outras cidades. Como prefeito nunca vou aceitar servidor receber salário ou plantão sem trabalhar. O vereador Jadson voltou a tocar nesta tecla, e nós naquele período focamos na questão dos plantões somente na Semob. É tanto que quando surgiu a denúncia retiramos os plantões da Jare, que era onde ocorriam os julgamentos. Quando Jadson denunciou, nós já tínhamos tirado. Com a operação do Ministério Público, no intuito de colaborar, e não de prejulgar, mas no intuito de dizer também que não tínhamos nada com isso, por que se tivesse o “rabo preso” eu não teria exonerado. Nós exoneramos todos. Do secretário a diretores e servidores de carreira das funções. No mesmo dia.

OM – O secretário deu alguma explicação?

FJJ – Tive contato com ele. Ele reafirmou sua inocência, afirmou que não fez isso e que a verdade seria dita. E queria deixar bem claro que a exoneração não foi julgamento pra ele nem para nenhum servidor. Não existe culpado até que seja apurado e julgado. O secretário me afirmou que está tranquilo com relação a isso e eu disse a todos que exonerei que se for provado que são inocentes poderão voltar à prefeitura no outro dia. Mas a minha atitude foi de exonerar para colaborar com o Ministério Público nas investigações.

OM – Neste cenário de crise foi efetuado algum saque no fundo previdenciário do município?

FJJ – Ao contrário do que foi dito pela oposição, não foi feito saque no fundo previdenciário. Eu poderia ter feito como outros prefeitos, como outros governos, e usar o fundo da previdência que era legal. Estamos falando de recursos da ordem de R$ 60 milhões. Nossa previdência hoje é sadia, é equilibrada. Devido a crise tive que optar entre deixar as pessoas morrerem, pagar a Previ, ou pagar as terceirizadas. Eu tinha um recurso para receber três problemas. A crise apertou e priorizei a saúde. E foi isso que eu disse ao Ministério Público. Foi feito um ajustamento e através do TAC o município vem cumprindo. Ninguém tirou, o município deixou de pagar.

OM – Quanto?

FJJ – Não sei o valor exato, mas é algo em torno de R$ 1,2 milhão por mês. Como foram 12 meses, deve dar algo em torno de R$ 14 milhões. Algo que já está sendo cumprido e pago de acordo com o Conselho, Ministério Público e Câmara.

OM – O ano encerrou com a definição do valor que o município receberá a partir da antecipação de recursos dos royalties. O que dará pra fazer com estes recursos?

FJJ – Veja bem. Estou me dedicando no início de 2016, incluindo sábados e domingos para fazer este planejamento. Hoje tive uma reunião com toda minha equipe de infraestrutura. Para saber quantas obras estão em andamento, qual o percentual para concluir, quantas estão licitadas e quantas não começaram. Segundo ponto: quanto devemos? Quais serão as prioridades destes pagamentos? O terceiro ponto, é o que vamos fazer com estes recursos. O quarto ponto, independente dos recursos, vamos ajustar ainda mais a máquina e torna-la eficiente. Veja o desafio. Para isso estamos ouvindo várias pessoas da gestão e fora da gestão para chegar a estes quatro pontos até o fim de janeiro. Só posso adiantar que parte destes recurso serão utilizados para equilibrar as finanças e a outra parte para investir na cidade.