Entrevista de Larissa Rosado ao jornalista César Santos, jornal defato.com

Crédito da foto: Jornal de FatoVereadora Larissa Rosado está no Cafezinho com César Santos

 

O rosadismo, grupo político-familiar criado pelo líder político Vingt Rosado, manteve por mais de cinco décadas uma cadeira na Câmara dos Deputados. Foram sete mandatos cumpridos por Vingt (1961 a 1990), três pelo ex-deputado Laíre Rosado (1991 a 2002) e três pela ex-deputada Sandra Rosado (2003 a 2014).

A vereadora Larissa Rosado (PSDB), neta de Vingt e filha de Laíre/Sandra, pretende quebrar esse intervalo de oito anos, entre 2014 e 2022, sem mandato em Brasília. Larissa será candidata à deputada federal nas eleições de outubro deste ano.

É sobre esse projeto político que a ex-deputada estadual por quatro mandatos e atual vereadora de Mossoró conversou no “Cafezinho com César Santos”.

Larissa Rosado também trata de temas importantes como a reforma da previdência municipal, cobra o cumprimento do novo piso salarial dos professores e faz duras críticas à gestão do prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade).

 

A senhora disputará as eleições de 2022?

Sim. Nosso grupo deve apresentar duas candidaturas, à Câmara Federal e à Assembleia Legislativa. Eu estou pleiteando para ser candidata à deputada federal da cidade de Mossoró, que eu acho que existe um espaço muito grande. Sinto nas ruas que a população mossoroense gostaria de retomar o espaço que nós já tivemos no passado. Estamos nessa caminhada, nas conversas, no diálogo que deve ser feito tanto com a sociedade quanto partidariamente.

E o nome à Assembleia Legislativa é o da ex-deputada Sandra Rosado?

Sim, pode ser. Como todo mundo sabe, ela está fazendo um tratamento de saúde. Ano passado, ela recebeu um diagnóstico de câncer de mama e está se tratando com resultado positivo, graças a Deus. Todos os médicos dizem que o tratamento dela agora é apenas preventivo, então ela deve caminhar comigo nas ruas de Mossoró e pelo estado do Rio Grande do Norte.

 

O grupo político-familiar da senhora teve 13 mandatos na Câmara dos Deputados, com o seu avô Vingt Rosado (sete mandatos), seu pai Laíre Rosado (três mandatos) e sua mãe Sandra Rosado (três mandatos). A questão histórica é o suficiente para a senhora pleitear um mandato ao eleitor?

Acho que o que potencializa uma possível candidatura é eu ser uma pessoa vocacionada a servir, a gostar de trabalhar, gostar de política e, principalmente, a necessidade que a cidade de Mossoró tem de contar com boa representação em Brasília. No passado nós tivemos dois filhos de Mossoró, nascidos aqui, representando a nossa cidade. Hoje é diferente, faz falta a representação política da cidade em Brasília. Às vezes, as pessoas não param para pensar sobre isso, mas nós temos aqui setores que precisam de uma voz firme para defender nossos interesses econômicos e sociais como a indústria salineira, a fruticultura, a luta por emprego. É importante ter representantes da cidade na Câmara para trazer emendas que viabilizam obras, para cuidar da infraestrutura da nossa cidade. Temos a luta pela duplicação da BR-304 que é urgente e precisa sair do papel, entre tantas outras lutas em prol de nossa cidade e região. Eu acho que a gente precisa ter voz forte, a gente precisa ter mais representantes para ampliar nossos espaços. É essa disputa que me move, que me faz dizer assim, ter inspiração pra ir às ruas pedir o apoio da população, pedir o voto.

 

A senhora é presidente estadual do PSDB Mulher e, evidentemente, tem voz e vez dentro do partido. A senhora está participando das articulações e qual a posição do partido para as eleições 2022?

Nós estamos em num processo de formação da nominata partidária, tanto a de federal quanto a de estadual. Embora o PSDB tenha cinco deputados na Assembleia Legislativa, nós temos de ter uma composição forte para garantir a presença desses mandatos e, se possível, ampliar. Esse é o nosso momento, estamos trabalhando com esse objetivo.

E quanto à disputa majoritária. Para qual direção que o PSDB caminhará?

Hoje nós temos em nível nacional a candidatura posta do governador João Doria à Presidência da República, que as pessoas que fazem parte do PSDB vão seguir. A nível estadual nós temos um partido dividido hoje, isso é um fato. Até as convenções nós receberemos as orientações de como isso vai se comportar. Se o meu partido tiver um candidato a governador, sendo Ezequiel Ferreira o nome mais forte que temos, nós estaremos ao lado dele sem nenhuma dúvida. Se não tivermos uma candidatura própria, vamos aguardar quais são as orientações e as opções que teremos pra assim conversar com o comando partidário.

 

Uma eventual candidatura de Ezequiel Ferreira para governador reunificará o partido? Os deputados do PSDB que hoje estão com a governadora Fátima Bezerra aceitariam a candidatura própria?

Sim, naturalmente unificaria. Recentemente, nós tivemos uma reunião em Brasília por ocasião das prévias partidárias que quase todos os prefeitos do PSDB, vice-prefeitos estavam presentes. E eles chamaram o presidente estadual, deputado Ezequiel, e fizeram um apelo para que ele se lance a governador do estado do Rio Grande do Norte. Essa manifestação dentro do partido entende que Ezequiel é um homem sério, competente, um político bem articulado e que poderia trazer bons frutos para o nosso estado. Essa é uma decisão que ainda não foi tomada, o próprio Ezequiel tem uma relação de muito respeito com a governadora Fátima, então acho que essa é uma decisão difícil, uma decisão política e pessoal, que cabe somente a Ezequiel tomar.

A senhora não acha que o movimento dentro do partido, o apelo para Ezequiel ser candidato a governador, o levará a tomar essa decisão?

Eu entendo que tem uma solicitação partidária muito forte, mas essa decisão passa pelo que Ezequiel quer para ele, para o partido, para o estado. É uma decisão pessoal, difícil, mas o importante é que estaremos com ele qualquer que seja a decisão.

 

Na hora que a senhora for consultada, dirá sim ou não para a candidatura a governador do PSDB?

Eu entendo que o deputado Ezequiel tem que analisar o que é importante não só para o partido, não só para o estado, mas para ele também. Ele tem que fazer uma consulta bem ampla. O que eu posso dizer agora é o que eu tenho dito a Ezequiel a todo momento, estarei com ele se ele for candidato a senador ou candidato a governador. Essa é uma questão que depende muito da decisão dele. Agora, eu tenho que reconhecer que internamente no partido existe esse movimento.

 

O prefeito Allyson Bezerra ainda não se manifestou sobre o novo piso salarial dos professores. A senhora tem uma posição organizada defender o cumprimento da Lei do Piso do Magistério em Mossoró?

Nós temos já feito essa cobrança diariamente, seja no nosso programa de rádio e na Câmara Municipal. Causou-me estranheza a forma, a indiferença que o prefeito tratou os profissionais da educação, os professores de Mossoró, na mensagem anual lida no início deste mês. Ele disse a todo momento que respeitava o servidor, que dialogava com o servidor, mas simplesmente não se referiu a essa pauta tão importante para os professores. Essa pauta não é só de Mossoró, mas os outros municípios estão implantando o novo piso como Apodi, Rafael Fernandes, Frutuoso Gomes, e o governo do estado está dialogando com o sindicato da categoria. Então, me causa estranheza que o prefeito de Mossoró não tenha se posicionado até aqui. Nós vamos continuar nessa cobrança para que a gestão municipal dialogue com os professores e diga que vai cumprir a Lei do Piso do Magistério.

O prefeito, nas poucas vezes que falou sobre o novo piso dos professores, questionou de onde sairia os recursos para cumprir o reajuste de 33,24%. Esse questionamento se sustenta?

Eu fiquei sem entender essa colocação do prefeito. Ele disse numa entrevista que para dar o aumento salarial do servidor teria que tirar de um canto para colocar em outro, sugerindo que a Câmara é que tinha que ter aprovado no orçamento. Ora, quem mandou o orçamento para câmara foi o prefeito e ele sabia que o novo piso salarial do magistério seria estabelecido nesse ano. O dever de cumprir o piso dos professores é do Executivo, não é do legislativo. O prefeito precisa assumir as responsabilidades, inclusive, como servidor público precisa se posicionar.

 

O silêncio do prefeito não é uma sinalização de que o município de Mossoró não vai implantar um novo piso salarial dos professores?

Espero que seja apenas uma suspeita, mas está muito parecido que ele não vai cumprir a lei. Estamos preocupados porque o prefeito colocou outro tema importante em cima dessa questão, que é a reforma da previdência que afeta os servidores públicos municipais, principalmente aqueles que recebem os menores salários. Mas, estamos atentos, vamos lutar em defesa dos professores. O sindicato da categoria deve se posicionar e terá todo o nosso apoio.

 

Promover uma reforma da previdência no momento em que se discute o cumprimento do novo piso dos professores seria uma forma de a gestão municipal mudar o foco?

Pois é, pode ser que seja, porque a reforma da previdência ocupa os vereadores de oposição, o sindicato, e o cumprimento do piso dos professores fica sem debate, perde o foco. No entanto, mais cedo ou mais tarde a cobrança chega. Aliás, essa cobrança já vem sendo feita. A gente vê nas redes sociais os professores da rede municipal pedindo respeito, cobrando que seja feita a implantação do piso.

Houve uma tentativa de aprovar a reforma da previdência sem discussão, mas o governo acabou recuando, mesmo tendo o apoio de mais de 2/3 na Câmara. O que aconteceu?

O prefeito não conseguiu os votos que precisava para aprovar a reforma no plenário. Tinha um sentimento na Câmara que eles queriam votar o mais rápido possível, mas vereadores da própria base de apoio do governo não aceitaram votar. Prevaleceu a discussão, a importância do debate. O nosso colega da bancada de oposição Francisco Carlos (Progressistas) pediu a audiência pública, nós fomos para audiência pública e, na sequência, eu até fiquei surpresa com a formação de um novo bloco com vereadores da base governista; houve o recuo do governo de colocar a reforma em votação. O prefeito chamou a reunião com o sindicato, com os vereadores, porque não teve a opção de votar do jeito que ele queria. Se ele quisesse dialogar, teria chamado o sindicato antes de mandar o projeto para Câmara Municipal, teria discutido uma proposta que pudesse ser votada com mais celeridade. Agora, foi obrigado a dialogar e esperamos que esse diálogo defina uma reforma que reduza ao máximo o impacto na vida dos servidores municipais.

 

A senhora estudou a reforma da previdência, elaborou proposta para melhorar o projeto do Executivo?

Nós temos uma proposta de reforma que não faz uma progressão da alíquota, aumenta de 11% para 14% a contribuição do servidor, sem escalonamento. Tem a pensão por morte que cai 50% o valor. A reforma proposta pelo prefeito fala em suplementação, mas não explica nada. O próprio advogado do Sindicato dos Servidores Públicos (Sindiserpum), Lindocastro Nogueira, quando fez a sua exposição, mostrou que era um texto extremamente confuso. Mas, estamos debatendo essa questão da previdência diariamente na Câmara Municipal e quero afirmar que a minha posição será de defesa do servidor público. O nosso mandato está com a categoria.

 

Seis vereadores governistas surpreenderam com a criação do bloco “Diálogo e Respeito”, sugerindo insatisfação com o Palácio da Resistência. A Câmara passa a ter seis blocos. É possível imaginar um equilíbrio de forças a partir de agora?

Eu acho que muda totalmente a situação se realmente o novo bloco cumprir o seu papel. Desde o começo da legislatura, o Executivo vinha aprovando tudo na Câmara, nós da oposição fomos atropelados. Os requerimentos chegando e que deveriam tramitar mais tranquilamente, estavam sendo votados em sessões extraordinárias. Acho que agora muda a relação de forças dentro da Câmara Municipal. E acho também que isso é consequência por se tratar de um ano eleitoral.

 

Numa entrevista recente, a senhora foi chamada para avaliar a gestão municipal e disse que não era boa. Por que essa conclusão?

A atual gestão municipal não é boa porque existe uma diferença muito grande do discurso para a realidade do que o povo de Mossoró vive hoje. Nós temos pessoas com fome pedindo nas ruas da cidade, porque a gestão não tem proposta para o social, para o desenvolvimento econômico. No centro da cidade, a praça está bonita, está organizada, mas se você vai à periferia, a realidade não é a mesma. A gente tem reclamações de pessoas que vão aos postos de saúde, que não encontram medicamentos. Se fizermos um comparativo da mensagem do programa de governo, apresentado durante a campanha eleitoral, com as duas mensagens apresentadas pelo prefeito (2021 e 2022), você percebe uma diferença muito grande.

 

Por exemplo…

Na mensagem de 2021, o prefeito disse que implantaria na UPA do Belo Horizonte um serviço de ortopedia, mas colocou uma pedra em cima e não fala mais sobre o assunto. Então, eu acho que é uma administração extremamente midiática, personalista e que não está olhando para a população com o cuidado que a população merece.

 

Transcrito do jornal DeFato.com, 13.02.22

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