Maria Carmem: A neuroconversa de hoje é sobre o TDAH

Neuroconversa

Olá, Aprendentes de meu coração

Esta semana a neuropsicopedagoga, Maria Carmem, finaliza a série “Quinteto DisTD – aprendizagem prejudicada” que abordou sobre os transtornos da aprendizagem – Dislexia; Discalculia; Disgrafia; Disortografia; TDAH. E nosso último capítulo, como prometido, discorre sobre o TDAH.

Falar sobre o TDAH é intrigante e ao mesmo tempo preocupante, pois mesmo não havendo nenhuma controvérsia quanto a existência desse transtorno, temos um número considerável de pessoas que desacreditam, que julgam não passar de comportamentos inadequados, falta de limite, de educação, desrespeito ou até uma invenção médica ou farmacêutica para obterem lucros com o tratamento.

Essas percepções ocorrem pelas mais variadas razões, desde uma inocência ou ignorância, até uma falta de formação científica ou mesmo má-fé e julgamento. Fato é que essa realidade nos remete a um contexto desafiador e é preciso estarmos atentos, pois a desinformação, a falta de raciocínio científico e a ingenuidade constituem uma mistura perigosa e complicada. Assim, o melhor é compreendermos o assunto, afinal é o conhecimento que transforma o homem e melhora o mundo. Então, vamos lá!

E para compreendermos vamos iniciar esclarecendo que o TDAH não é um transtorno de aprendizagem, mas sim um transtorno do neurodesenvolvimento que pode causar danos para a aprendizagem e desenvolvimento do aprendente. E é exatamente nessa nuance que trazemos esse transtorno para finalizar nosso quinteto, para desmistificar a percepção que esse transtorno é específico da aprendizagem.

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH, transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e acompanha o aprendente por toda a vida. Desatenção, inquietude, hiperatividade, impulsividade são sintomas característicos desse transtorno que pode afetar crianças e adultos. E, apesar de na maioria das vezes ser diagnosticado na infância, muitos casos são identificados apenas na vida adulta, especialmente quando falamos do TDA que é o transtorno sem a hiperatividade.

Segundo Barkley (2008), TDAH são significativos problemas apresentados por crianças quanto à atenção, normalmente com impulsividade e atividade excessiva. Porém, esse é um transtorno do neurodesenvolvimento e não um transtorno específico de aprendizagem, ainda que possa atrapalhar o desempenho acadêmico, devido a disfunção executiva, a falta de atenção e concentração e muitos outros sintomas.

A Organização Mundial da Saúde – OMS estima que 8,4% das crianças e 2,5% dos adultos têm TDAH, sendo que o transtorno costuma ser identificado quando os aprendentes já frequentam a escola e passam a apresentar inquietação em sala de aula e dificuldades na aprendizagem.

O TDAH está dividido em três subtipos:

Desatento

Hiperativo/ impulsivo

Misto ou combinado

E quais as características de cada tipo?

O Desatento: distrai-se com facilidade; pouco tempo de concentração; dificuldade em permanecer focado em uma atividade; parece não ouvir o que foi dito; dificuldade em acompanhar instruções longas; erram por descuido; são desorganizados; baixa memória de curto prazo; parecem estar no mundo da Lua; evitam tarefas com esforço mental prolongado; dificuldade em concluir tarefas.

Hiperativo/Impulsivo: mãos e pernas agitados e inquietos; saem com frequência do lugar onde estão sentados; por vezes, fazem palhaçadas para chamar a atenção; correm ou escalam em momentos inadequados; falam excessivamente; estão sempre em movimento e agitados; apresentam conduta desorganizada; são impacientes; dificuldade em esperar a vez; são barulhentos; são irritadiços; interrompem e se intrometem em conversas alheias; sempre em busca do prazer; se arriscam; podem ser agressivos e demonstram raiva; são agitados e ansiosos; agem com o coração e não com a razão.

Misto ou Combinado: mistura de sintomas do tipo desatento e hiperativo/ impulsivo.

De acordo com o DSM 5, tanto meninos quanto meninas podem ter TDAH, porém, existe sim um número maior de meninos. Também já existem inúmeros estudos e pesquisas, inclusive no Brasil, evidenciando que a prevalência desse transtorno é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o transtorno não é secundário a fatores culturais ou ao modo como os pais educam os filhos, nem tão pouco resultado de conflitos psicológicos.

As pesquisas revelam os aprendentes com TDAH têm alterações nas conexões da região frontal e as demais partes do cérebro. E essa região, frontal orbital, é uma das mais desenvolvidas no ser humano se comparado com outras espécies animais, além de ser responsável pela inibição do comportamento controlando ou inibindo comportamentos inadequados, como também pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento.

E o que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores, principalmente a dopamina e a noradrenalina, responsáveis por passarem as informações entre as células nervosas/neurônios.

Geralmente os sintomas do TDAH são de fácil percepção para quem convive com a criança, mas também podem ser mais implícitos, por isso, é extremamente importante estar atento aos sintomas e jamais confundir-se com algum distúrbio de aprendizagem, como dislexia, disgrafia, discalculia, por exemplo. Afinal, quanto mais cedo o diagnóstico, mais fácil a melhoria do desenvolvimento e a vivência do aprendente.

Em suma, evidenciamos que o TDAH não é doença, e sim, um transtorno, não tem cura, dessa forma, medicação somente, também não resolve! Precisa-se de um tratamento, uma intervenção multidisciplinar (psicólogos, psiquiatras, neuropsicopedagogos), para que o indivíduo compreenda seu transtorno e saiba como viver com ele de forma leve, tendo a capacidade de criar estratégias cotidianas para que seu dia a dia transcorra bem e possa andar de mãos dadas com seu TDAH.

E para não concluirmos, abraços pedagógicos e até a próxima!

 

Por Maria Carmem

Dra da Aprendizagem

@carmem.neuro.psicopedagoga

(84) 996095957

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