O diálogo como principal aliado do desenvolvimento sustentável

Roberto Serquiz
Industrial e presidente do Sistema FIERN

Após a revolução industrial o mundo alucinadamente só produziu, numa jornada que se estendeu até 1960, quando os países mais desenvolvidos passaram a pensar numa forma de otimizar a produção. A partir de então a indústria iniciou um processo de estudos e movimentos, mas o nosso país só começou a discutir sustentabilidade após a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, no ano de 1972.

Nessa época houve muita pressão da sociedade internacional para que o Brasil passasse a fazer gestão ambiental integrada. Mesmo assim, o Brasil continuou priorizando a produção durante toda a década de 80 e, somente a partir de 1990, se inseriu na busca pela qualidade, onde a produção artesanal ou mecanizada passou a migrar para automação, transformando a década seguinte (2000) na década da inovação.
Os anos 1970 e 1980 foram marcados pelos grandes acidentes ambientais: o acidente em Goiânia, com o césio 137; o índice de desmatamento era alarmante; a caça e pesca predatória e sem controle (os jacarés e baleias estavam às vias de extinção); crescentes conflitos entre comunidades tradicionais e seringueiros, que teve como ápice a morte de Chico Mendes, provocando definitivamente o país a pensar o desenvolvimento sustentável.

Prova disso foi a Constituinte de 1988, quando foi escrito o primeiro capítulo sobre meio ambiente. E, em 1998, surgiu a primeira lei sobre crimes ambientais. Em paralelo à criação da legislação, órgãos reguladores foram sendo constituídos, como a fundação do IBAMA (1989) e os institutos regionais, promovendo uma nova dinâmica na questão ambiental

Temos uma das legislações mais completas e avançadas do mundo, mas não conseguimos realizar uma condução eficiente onde o diálogo figure como valor decisivo na interpretação das leis face ao desenvolvimento econômico. Entre a regulação e implementação existe a transição. É esse o período que estamos atravessando e, se me perguntarem qual seria a principal mudança entre a indústria e o meio ambiente é a filosofia de atuação.

Acho que se dá uma imposição exagerada nos custos e regulações, reduzindo-se o foco na parceria desejável entre o poder público e a indústria para a concretização do desenvolvimento sustentável. Direto ao ponto: precisamos de mais técnica e menos emoção. A questão ambiental tem que deixar de ser restrição e passar a ser oportunidade. A punição é perversa. Precisamos de bom senso.

Observem que nas cidades onde os gestores ambientais levaram suas ideologias para as funções que exercem, o desenvolvimento sócio/econômico foi sacrificado, o que nos leva a concluir que precisamos evoluir na maior das leis: o diálogo.

Publicado em Tribuna do Norte

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