LAIRE ROSADO: A DIFÍCIL DECISÃO PELA INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ

Foto Paulo Pinto. Agência Brasil

 

Não sei qual é a opinião do leitor em relação ao projeto de lei que equipara o aborto a homicídio. Como católico, confesso minha decepção com a posição da CNBB, manifestando-se favorável a esse projeto de lei. Poderia ficar ao lado da mulher-vitima de estupro e não, indiretamente, ao lado do estuprador.  “O direito à vida é incondicional. Deve ser respeitado e defendido, em qualquer etapa ou condição em que se encontre a pessoa humana”, diz a nota oficial da entidade. Os bispos estão certos em defender a vida, mas não podem assumir uma posição condenatória às vítimas de estupro, nem a mulheres em que a gravidez coloca em risco a própria vida ou portadoras de fetos anencefálicos em seu útero.

O Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, em 1962, a convocar o Concílio Vaticano II, não causou uma rutura na tradição da fé da Igreja, mas atualização. Adequação aos tempos atuais. A Igreja Católica estava isolada e o Vaticano entendo a necessidade de um diálogo com os novos tempos, com uma nova realidade.

Em outubro de 1993, a irmã Ivone Gebara, da Congregação irmãs de Nossa Senhora, que se dedica à educação de menores carentes, declarou corajosamente, em entrevista à revista Veja, edição de 06 de outubro de 1993, “que aborto não é pecado, o Evangelho nem trata disso”. Sua proibição é uma hipocrisia da Igreja que só prejudica os pobres, afirma. Para ela, o catolicismo está em crise, mas pode superar, como vem superando através dos séculos. Um primeiro passo, considera, seria a revisão de posturas inflexíveis que afasta a Igreja da vida e das carências reais de seus fiéis.

O assunto é vasto e passível de análises em vários aspectos. Entretanto, para hoje, é preciso mostrar que o projeto do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) não foi uma defesa de quem quer que seja, mas uma provocação ao presidente da República. Quando apresentou o PL, fez a seguinte colocação:  “O presidente mandou uma carta aos evangélicos na campanha dizendo ser contra o aborto. Queremos ver se ele vai vetar. Vamos testar Lula”.

A irresponsabilidade desse deputado federal não pode ser levada a sério pelos brasileiros, muito menos pelos cristãos. Tanto o estupro quanto o aborto agridem indelevelmente a mulher.  80% dos estupros são contra meninas que muitas vezes nem sabem o que é gravidez. Acontece mais de um aborto por minuto no Brasil. Em 78 países, as gestantes são livres para decidir se interrompem a gravidez. No Brasil, o aborto precisa ser encarado como um problema de saúde pública e não como uma questão penal.

 

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