NÃO, O BRASILEIRO NÃO É GENTE BOA COMO PENSÁVAMOS

O presente artigo tem por objetivo descrever a tese do pensamento da professora doutora Lilia Schwarcz, escritora e antropóloga que afirmou que o esteriótipo do brasileiro gente boa, tolerante, aberto, pacífico e acolhedor é um mito. Não, o brasileiro não é nada disso, mas faz questão se apresentar como tal. Esta é a tese da Professora titular do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e visitante em Princeton University, Nova Jersey nos EUA.

Isto posto, vamos delimitar estas poucas linhas. O brasileiro faz questão, frise-se, quer mostrar e se apresentar como tal, como gente boa, tolerante, aberto, pacífico e acolhedor. Porém, na análise da pesquisadora e escritora Lilia Schwarcz, nada disto condiz com a realidade, e complementa que tal pensamento era outrora visto como verdadeiro nos outros países, mostrando-se na atualidade como um mito, infelizmente. Vamos, então, nos parágrafos seguintes aos argumentos da antropóloga.

O brasileiro, boa parte de seu povo, se apresenta agora na prática como intolerantes aos feminismos, aos novos movimentos negros, aos movimentos indígenas, aos movimentos de ecologia, LGBT e de meio ambiente etc. O que impressionou muito é que durante muito tempo houve uma negação desse lado violento e nada cordial dos brasileiros, como também o que ocorre nessa nossa contemporaneidade é uma mudança sem pudor, pública mesmo, com muitos brasileiros se definindo como absolutamente intolerantes (SCHWARCZ, 2020).

Não só escondemos a verdade aos outros, escondemos de nós mesmos com esse aparente viés de gente cordial e amável, o que não somos na verdade. Não se trata apenas de um plano planejado para iludir os estrangeiros. Durante muito tempo os próprios brasileiros também estavam enganados, nós mesmos chegamos a acreditar veementemente que éramos mesmo isso, cordiais, tolerantes, compreensivos, amáveis e sem preconceito algum. Hoje isto mudou, afloram-se pensamentos radiciais incompatíveis com esse imaginário do brasileiro gente boa.

Existem muitas interrogações sobre o problema ecológico, muitas incógnitas sobre o racismo pautadas por Marielle Franco e diversas questões. Graves inseguranças com relação à censura: o documento que circulou na indicação do Oscar para o filme da Petra (Democracia em Vertigem), documentário descritivo, teve grande visibilidade no mundo. Quem matou Marielle? Onde estão seus assassinos? O Brasil está conformado com essas perguntas em aberto? Está sim. Está tristemente conformado, fazer justiça no caso Marielle é algo para se deixar no esquecimento mesmo.

Direitos precisamos conquistar sempre afirma a pesquisadora Lilia Schwarcz. Não existe direito eterno. Mas o que nós temos assistido no Brasil é, de fato, um projeto de Estado que pretende reverter ganhos arduamente conquistados nesses últimos 30 anos. Esse é um governo que tem tentado retroceder nas conquistas do feminismo, adotando uma postura agressiva, muito retrógrada, em relação a esses temas, em relação aos movimentos quilombolas, aos movimentos indígenas, enfim, um governo que tem uma postura assustadora para o mundo contemporâneo global.

Necessitamos de um Brasil não como esse Brasil que estamos conhecendo hoje. Não queremos um Brasil com tanto ódio, como esse Brasil que vai sendo desnudo nas manifestações dos ministros da Educação, da Economia, do Meio Ambiente, das Relações Exteriores, da nossa ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Um Brasil mais aberto ao contraditório. Um Brasil mais sonhador! Nós precisamos de mais utopia e de menos pesadelos, conclui a pesquisadora.

Auris Martins de Oliveira é professor da UERN e doutorando em Ciências Contábeis pela UNISINOS.

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