Domício Arruda: Saúde que Interessa
A política dá muitas voltas mas não muda sua essência.
O binômio que faz com a doença é o exemplo.
João Café (nome potiguar), o primeiro e único Presidente que as Rocas deram à República, foi afastado do comando da nação por conta de problema de saúde.
No tempo em que infartar era bilhete azul para a aposentadoria por incapacidade física e governamental.
Está no folclore político que o senador piauiense Petrônio Portela, em alta para assumir o Ministério da Justiça do General Figueiredo, soube que o convite não mais seria feito por se encontrar hospitalizado.
Ao visitante e portador do desconvide, mostrou ser um homem destemido, talhado para o cargo.
–Que não seja por isso.
Arrancou o soro do braço e deixou o hospital à revelia das ordens médicas.
Só não foi o ungido para disputar as eleições indiretas contra Tancredo Neves, outro alcançado por destino trágico, porque um segundo infarto foi fulminante.
Foi o presidente equestre quem começou a desmistificar a doença como impedimento ao comando do governo, quando se submeter a cirurgia de ponte safena era coisa de outro mundo, pra ser feita prá lá de Cleveland.
Único presidente por quatro mandatos, Franklin Roosevelt quando foi eleito para o primeiro, depois de ter sido Senador e Governador de Nova Iorque, já estava em cadeira de rodas.
Conduziu o país na recuperação da grande depressão econômica e durante toda a segunda grande guerra.
À sua deficiência, devem muito, o desenvolvimento da fisioterapia e a criação da vacina contra poliomielite.
Posteriores revisões clínicas indicaram que não se tratava da doença infecciosa e sim, de natureza autoimune, o mal que não afetou a confiança nem a popularidade de FDR.
Depois de dar tantas chances ao azar e cutucar o cão com vara curta, o Presidente Trump traz a questão para o centro da disputa política mais acompanhada do mundo.
Aos 74 anos, gozando aparente saúde apesar de não mostrar boa forma física, luta contra a doença mais temida e desconhecida de todas, sem poder mostrar fragilidade. Que não pega bem na alta função exercida que pretende continuar.
Desta vez, não vai poder acusar a imprensa, nem mesmo a CNN de estarem divulgando fakenews.
Discutíveis são os métodos empregados para não perder pontos na corrida eleitoral.
Não capitulou à humilhante maca, dispensando também o helicóptero-ambulância.
Foi se internar com roupa que poderia usar na posse para o segundo mandato, sem esquecer a maquiagem.
As imagens de alta resolução flagraram um cateter de oxigênio camuflado sob o topete, escondido por trás da máscara que antes recusava usar.
Os boletins médicos divulgados não são coerentes com o tratamento instituído.
As contradições têm sido esmiuçadas pelos muitos consultores médicos dos canais de notícias.
A alta hospitalar precoce é o esforço para que a reeleição não morra de véspera, 23 dias antes da ceia de Thanksgiving.
Em menos de um mês saberemos o que tem mais peso na reta final de uma campanha presidencial.
Uma pneumonia por Covid-19 ou uma facada.