A QUESTÃO DO ANALFABETISMO ENTRE OS JOVENS (DE 15 A 29 ANOS) NO RIO GRANDE DO NORTE

Joacir Rufino de Aquino & Raimundo Inácio da Silva Filho

(Professores e pesquisadores da UERN)

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou no mês passado mais uma rodada de números do Censo Demográfico 2022, dessa vez sobre alfabetização. A informação repercutiu rapidamente na imprensa estadual, principalmente porque a população de 15 anos ou mais no Rio Grande do Norte (RN) apresentou uma taxa de analfabetismo de 13,9%, quase o dobro da média nacional que foi de 7,0%.

 

O indicador sobre o universo de analfabetos no RN é alarmante e se concentra em um grupo etário de pessoas acima de 55 anos. Todavia, a média geral dos dados esconde outra realidade extremamente preocupante no Brasil e no nosso estado: o analfabetismo entre os jovens de 15 a 29 anos.

 

Segundo o recenseamento do IBGE, em 2022, existiam 45.312.128 pessoas com idade de 15 a 29 anos em nosso país, consideradas jovens pelas normas do Estatuto da Juventude. Desse total, 725.445 (1,6%) era analfabeta, ou seja, não sabiam ler e escrever uma carta simples. No RN, naquele mesmo ano, o número de jovens somava 755.428, dos quais 23.581 (3,1%) foram classificados como analfabetos.

 

Os jovens analfabetos potiguares também podem ser caracterizados pelo seu sexo e a cor. Usando esses critérios percebe-se que a maioria são homens (71,1%) e, no geral, predominantemente moças e rapazes negros (15.840 ou 67,2% do total), revelando uma das terríveis mazelas das desigualdades sociais que marcam o “nosso elefante”.

 

Já do ponto do ponto de vista geográfico, 10 municípios concentram 9.249 (39,2%) dos indivíduos dessa população juvenil que não sabe ler e escrever. São eles: Natal (com 12,8%), Mossoró (com 5,4%), Ceará-Mirim (com 3,4%), Parnamirim (com 3,2%), Macaíba (com 3,1%), São Gonçalo do Amarante (com 2,8%), Nova Cruz (com 2,3%), João Câmara (com 2,1%), São José do Mipibu (com 2,1%) e Assú (com 455 jovens ou 1,9%). O restante da cifra se distribui com graus variados nos demais 157 municípios do estado, tendo sido identificados pelo menos 5 ou mais jovens analfabetos em cada um deles.

 

Com efeito, tais estatísticas do Censo Demográfico 2022 não podem ser menosprezadas. Elas revelam um problema educacional de graves proporções. Para exemplificar, basta dizer que os 23.581 jovens analfabetos do RN representam um contingente populacional de tamanho mais de 2 vezes superior aos 11 mil alunos matriculados na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

 

Os dados apresentados sinalizam, portanto, um grande desafio para os governos e a sociedade norte-rio-grandense. Isto porque, como sabiamente sempre diz o fundador do Instituto Fome Zero (IFZ) José Graziano da Silva, para questões sociais gritantes como a fome, o analfabetismo entre os jovens, entre outras, “o único número aceitável é zero”.

 

Diante desse cenário, torna-se fundamental que o tema tratado brevemente aqui apareça na agenda dos candidatos/as às eleições municipais no mês de outubro deste ano. Igualmente importante é que o enfrentamento do analfabetismo, em todas as suas facetas, seja eleito como uma prioridade estratégica dos futuros prefeitos/as potiguares, tendo como meta a alfabetização e a formação de milhares de jovens e adultos do nosso estado ainda privados do direito básico de saber ler e escrever em pleno primeiro quarto do século XXI.

Raimundo Inácio da Silva Filho

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