00Itto Ogami é um Ronin, ou seja, um samurai que caiu em desgraça.
Vaga pelas terras do Japão feudal tendo de seu apenas o orgulho férreo, o rígido código de honra dos samurais, uma incrível habilidade com a espada, seu filho Daigoro e um terrível desejo de fazer justiça.
Conhecido como Lobo Solitário, Itto Ogami é o herói principal da saga japonesa em quadrinhos – chamados Mangá, no Japão – que durante vários anos foi publicado por editoras diferentes no Brasil. Essa última edição que chega ao seu último número, o 28, é da Panini Comics.
Os autores, Kazuo Koike e Goseki Kojima, traçam um vasto e rico painel do Japão feudal, com suas práticas, crenças, costumes e tradições, muitas vezes de difícil compreensão para nós, ocidentais.
Itto Ogami é o leal executor do Shogun, que por artes da traição do clã Yagyu na pessoa do seu chefe mestre Retsudo, perde cargo e esposa, morta violentamente. O samurai sobrevive junto com seu filho Daigoro.
A partir daí Ogami assume o caminho do Meifumadô, ou inferno dos budistas. Torna-se um Ronin, um guerreiro errante, tendo sempre em vista acertar as contas com mestre Retsudo, para assim limpar seu nome e sua honra.
No último episódio de uma série de milhares de páginas, ferido e pressentindo o fim, Ogami toma o filho Daigoro nos braços e apontando o rio, pergunta se ele sabe para onde aquelas águas correm. É o começo de um diálogo de caráter reencarnacionista e de profunda beleza poética.
O Samurai usa o rio como metáfora:
“O rio desemboca no mar e torna-se onda. Ondas grandes, ondas menores, elas vem e vão, vão e vem, muitas e muitas vezes sem cessar”. Ogami continua: “a vida dos seres humanos é como a onda. Eles nascem, vivem, morrem e nascem novamente”.
Pai e filho olham-se nos olhos: “Em breve o corpo do seu pai tornar-se-á um mudo cadáver. Mas a alma que há em mim é como a onda, jamais deixará de existir”.
Aquele homem duro está profundamente emocionado.
“Quando chegar a hora, minha alma partirá, ondulando pela correnteza, para desembocar na outra margem da vida, a fim de reencarnar. Meu corpo pode padecer, mas minha alma é indestrutível. Assim como a sua”. Pai e filho, companheiros de tantas aventuras, agora choram.
“Nossas almas são eternas e jamais serão destruídas pelo tempo. Não se abale caso veja o corpo de seu pai ao chão. Não recue, mesmo que minha pele venha a rasgar ou o meu sangue a jorrar”.
Ogami observa o rio sinuoso.
“Não tema ao ver meus olhos cerrados ou minha boca calada. Na próxima encarnação eu continuarei a ser o seu pai. E você ainda será o meu filho”.
E conclui, abraçando fortemente o filho contra o seu corpo:
“Nós somos e continuaremos a ser inseparáveis, eternamente pai e filho.”
Belíssimo, não? Os desenhos são um magnífico bico-de-pena que dão vida a um roteiro que valoriza a vida nos vilarejos e campos do Japão dos Shoguns e Samurais. Em uma palavra: obra-prima.
Aos que gostam de HQs, uma recomendação: procurem, urgentemente, nas bancas.
NATAL/RN.