Alain Delon revisitado

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Alex Medeiros
@alexmedeiros1959

Duas semanas depois da sua morte, o ator francês está de novo nas manchetes da imprensa europeia e sendo debatido nas rádios, televisões e internet, sua saudade emulada por uma biografia que está saindo do prelo, assinada pelo escritor e historiador Philippe Durant, uma figura carimbada no resgate das vidas e carreiras dos ídolos mais populares da sétima arte.

Aos 60 anos, Durant já escreveu um livro sobre a amizade de Delon e Jean Paul Belmondo e também uma biografia desse outro francês famoso das telas, e agora concluiu “Delon – um Destino Francês” que começou a escrever em 2018. Também são da sua lavra biografias de Jack Nicholson, Kim Basinger, Leonardo Di Caprio, Mickey Rouke, John Travolta e até de alguns personagens consagrados no cinema como James Bond (007) e Arsene Lupin.

Nas diversas entrevistas que ele tem dado, fala do golpe que foi a notícia da morte do astro, mesmo que todos os fãs já estivessem um pouco preparados para a perda e que todos tinham certeza que não demoraria a acontecer.

Ele compara o choque da morte com um monumento histórico quando desaba, posto que Alain Delon era uma referência internacional absoluta, provavelmente o maior nome das artes francesas em todo o século XX.

Para Durant, que frisa não querer diminuir ninguém, mas apenas estabelecer parâmetros, Delon é uma marca mais relevante do que Belmondo, Brigitte Bardot, François Hardy, Catherine Deneuve e Gerard Depardieu, entre outros.

Afirmou que o astro foi um dos poucos franceses que galgaram a dimensão de personalidades globais. E é também por isso que sua ausência deixa uma cratera não apenas no cinema da França, mas também em âmbito mundial.

Indagado sobre aspectos pessoais do artista, de quem o biógrafo foi amigo, Durant diz que Delon era um profissional que vivia a buscar excelência em seu trabalho, por mais que sua vida social e a fama de galã se antecipassem a ele.

“Ele procurou o que era melhor. Veja os diretores com quem ele trabalhou. Delon às vezes errava, mas o fato de sempre expor a casca de uma megalomania que moldou a lenda, tinha as prioridades, como criar seus filhos”.

Respondendo se alguma outra estrela do cinema francês se assemelha; Durant disse que não, mas que Brigitte Bardot poderia ser esta pessoa se não tivesse interrompido a carreira no meio do caminho: “Alain Delon perseverou até o fim”.

Realmente, Delon sempre quis continuar na profissão que odiava e amava ao mesmo tempo. Até na depressão provocada pela vontade de uma eutanásia que imaginava realizar na Suíça, já que a França não permite morte assistida.

O escritor conheceu Delon por intermédio de Belmondo, num encontro de muita cordialidade do ator. Para o biógrafo, seu biografado era cada vez mais charmoso, agradável, sorridente, disposto humorado ao responder perguntas.

O ator que eu mais destaquei em crônicas foi Clint Eastwood (já disse isso), mas Alain Delon tem sua aura presente na intimidade familiar por causa de um episódio hilário com meus filhos quando os mais velhos eram adolescentes.

Num passeio a bordo de um Fiat Prêmio, Marana perguntou se eu ainda estava comprando CDs de filmes; informei que havia adquirido uma aventura do Zorro, de 1974 e disse-lhe para adivinhar quem era o ator principal atrás da máscara.

Após minutos do seu silêncio, informei: Alai Delon. E Rudá, que vinha atrás saltou de lá e indagou “é aquela roupa?” (a marca fashion). A irmã irrompeu criticando a desinformação: “pelamordedeus, é o ator mais lindo dos anos 60”.

Enquanto o caçula Renoir folheava uma revistinha, impassível e indiferente à conversa, Rudá dispara a pergunta: “e ele é vivo?”. Marana, taxativa, toda bem informada: “sim, claro”. E o irmão de novo: “Vixe, é um véioba, então?”.

Mais um motivo para não esquecer Alain Delon. Que venha a biografia.

Publicado na Tribuna do Norte

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