Astúcias do Capitão
Não adiantaram as pajelanças nem os panelaços. Não haverá mudanças tão cedo. Nem que a vaca, imune ao vírus, tussa.
O messias já anunciou.
O salvador da pátria fica até o primeiro dia de 2027.
Weintraub, Damares, Salles, Otávio e os meninos travessos, também.
Em um mundo de tantas incertezas, pelo menos isso.
Não sabemos nem quantas olimpíadas e copas do mundo teremos até lá, mas o capitão-presidente garantiu aos fanáticos que eles vão continuar se aglomerando na porta do palácio, para sorver um pouco da sua sabedoria, em doses matinais, por um bom tempo.
Não é fácil entender o que se passa na cabeça pensante do grande timoneiro da nação.
É preciso analisar seus gestos e perspicácia para separar do que é dito, os fakes lançados só para enganar os jornalistas, os outros idiotas que também ficam por ali, gravando inconfidências e espreitando um ângulo desfavorável pra queimar mais ainda, a imagem presidencial.
No dia em que o Grande Guia interrompeu a caminhada nos jardins do Alvorada e ficou de cócoras com a mão na fronte, qual uma caricatura do Pensador de Rodin, por bons 15 minutos, ninguém esperava que depois, o governo não seria mais o mesmo.
E daí?
Em diante, foi uma saraivada de mísseis da sua arma mais letal. A caneta azul.
A Bic, roída quando falta o Rivotril, muda a vida das pessoas.
Com ela, abateu o sabichão da ciência em foco e o bom moço com cara de sacristão sonso.
Deu uma fraquejada quando voltou atrás no upgrade que queria para o coleguinha dos garotos. Faz parte. Bola pra frente. Nem sempre se ganha.
Agora, é um olho no pastor e outro no culto.
Sair da pandemia sem sair do comando.
O que não falta é tempo. Sempre adiado por mais 14 e mais 14 dias até que o pico da curva nunca seja alcançado.
Tampouco faltam estratégias.
Pode-se ao mesmo tempo, disseminar a imunização passiva e tirar da frente quem só atrapalha.
Passeio de jetski e churrasco falso se mostraram pouco eficientes. Mas o cardápio é variado e as ideias que pululam da usina instalada no gabinete que muitos odeiam, são geniais, iluminadas e certeiras.
O que está na boca e nas faixas do povo saudosista nas carreatas da vida, já teve suas operações deflagradas.
A ordem é a volta lenta dos que saíram gradualmente.
Devagar, vão ocupando todos os espaços. A missão repete o sucesso alcançado nos gabinetes mais próximos dos poderosos.
Na Educação depois das escolas, virão as universidades cívico-militares.
Vai ser uma beleza, ver as meninas da Sociologia, de farda.
Na Saúde, a logística é o mesmo exército de branco nas batalhas de sempre, sob o comando dos homenzinhos verde-oliva.
Triângulo de um lado só não é desenho fácil de fazer.
É complicado fechar os outros dois ângulos, mas dá-se um jeito.
O mais difícil foi esconder o resultado do exame.
Desta vez nem o Greenwald conseguiu interceptar. Inacreditável. Tão fácil, era só uma sapeada no computador do laboratório.
Agora, antes do novo normal, a nova guerra.
Com transmissão direta, dois campos de batalha na praça que um dia há de ser, do único poder. Celestial.
Contaminar o QG dos 11 intocáveis.
Um ataque de surpresa, com um monte de bebês-chorões, o ex-barbudinho não esperava.
O Guedes é que quase bota tudo a perder. Deu muito na vista, a maior bandeira, deixar as ventas pra fora da máscara.
Os outros 300 picaretas começaram a ser atacados.
Do jeito que eles gostam. Pelo grande centro.
Conversa ao pé do ouvido, e discretamente, entre uma verba emendada e outra, sai uma tossezinha.
Assim, segue o jogo.
Ainda bem que 2027 chega logo.
Território Livre – TN
Domício Arruda é médico e jornalista