Catedral Notre-Dame de Paris é reaberta em cerimônia com a presença de dezenas de líderes mundiais

Catedral Notre-Dame de Paris é reaberta em cerimônia com a presença de dezenas de líderes mundiais

 

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

O presidente francês Emmanuel Macron recebeu os convidados para a cerimônia no pátio, em frente à catedral. Entre as presenças ilustres estavam o príncipe William, herdeiro do trono britânico; a chefe do governo italiano, Giorgia Meloni, o presidente italiano, Sergio Mattarella; o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu primeiro deslocamento internacional após a eleição, a primeira dama-americana, Jill Biden, o bilionário Elon Musk e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, muito aplaudido ao entrar na catedral.

O presidente francês Emmanuel Macron e a sua esposa, Brigitte Macron (E) posam com a primeira-dama dos Estados Unidos Jill Biden (C) e sua filha, Ashley Biden (CE) diante da Catedral de Notre-Dame, antes de uma cerimônia para marcar a reinauguração da catedral. Em Paris, em 7 de dezembro de 2024. (Foto de Christophe PETIT TESSON / POOL / AFP)
O presidente francês Emmanuel Macron e a sua esposa, Brigitte Macron (E) posam com a primeira-dama dos Estados Unidos Jill Biden (C) e sua filha, Ashley Biden (CE) diante da Catedral de Notre-Dame, antes de uma cerimônia para marcar a reinauguração da catedral. Em Paris, em 7 de dezembro de 2024. (Foto de Christophe PETIT TESSON / POOL / AFP) AFP – CHRISTOPHE PETIT TESSON

O evento é uma oportunidade de destaque internacional para a França e sinal de prestígio para o presidente Emmanuel Macron, que enfrenta baixa popularidade após a queda do primeiro-ministro Michel Barnier, também presente. A cerimônia é considerada um exemplo do “orgulho francês”, assim como foram os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024.

Por causa do mau tempo na capital francesa, todo o protocolo ocorreu dentro da igreja. A cerimônia oficial começou às 19h (15h em Brasília), com a abertura dos portões pelo arcebispo de Paris, Laurent Ulrich. “Notre-Dame, modelo da fé, abra as portas para receber em alegria os filhos de Deus”, disse ele. “Abra as portas para nos ajudar a encontrar o amor, a justiça e a paz”, completou, enquanto o coral entoava cânticos religiosos. “Notre-Dame, abra as portas para renovar a esperança”, acrescentou, quando efeitos luminosos decoravam a fachada do imenso edifício de pedra.

A catedral Notre-Dame de Paris é uma obra-prima gótica. Ela foi reaberta cinco anos depois do incêndio de 2019. Cerca de 250 empresas e centenas de especialistas participaram do projeto de restauração, que durou cinco anos, a um custo de € 700 milhões.  Emmanuel Macron, Brigitte Macron e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, diante da porta da catedral, na noite de reabertura.  Em 7 novembro de 2024. (Foto de Christophe PETIT TESSON / POOL / AFP)
A catedral Notre-Dame de Paris é uma obra-prima gótica. Ela foi reaberta cinco anos depois do incêndio de 2019. Cerca de 250 empresas e centenas de especialistas participaram do projeto de restauração, que durou cinco anos, a um custo de € 700 milhões. Emmanuel Macron, Brigitte Macron e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, diante da porta da catedral, na noite de reabertura. Em 7 novembro de 2024. (Foto de Christophe PETIT TESSON / POOL / AFP) AFP – CHRISTOPHE PETIT TESSON

Emmanuel e Brigitte Macron e a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, entraram na catedral com o arcebispo Laurent Ulrich e foram recebidos pelos presentes de pé.

Durante a cerimônia de reabertura, que teve uma parte civil e um ofício religioso, o presidente da República expressou a “gratidão da nação francesa” pela reconstrução da Catedral Notre-Dame de Paris.

O programa iniciou com a exibição de um filme retratando a reconstrução do monumento de mais de 860 anos de história, assim como o desfile de bombeiros e artesãos que salvaram e reconstruíram o edifício. Presentes, eles foram longamente aplaudidos, enquanto do lado de fora a palavra “Merci”, obrigado em francês, era projetada na fachada da catedral.

No eixo central, os convidados estavam sentados em 1.500 novas cadeiras de carvalho claro, instaladas para acomodar os “14 a 15 milhões” de visitantes esperados por ano, segundo a Igreja Católica.

O presidente eleito dos EUA Donald Trump (E),e o presidente francês, Emmanuel Macron (D), durante a cerimônia da reabertura da Catedral Notre-Dame de Paris. Em Paris, em 7 de dezembro de 2024. (Foto de Thibault Camus/POOL/AFP)
O presidente eleito dos EUA Donald Trump (E),e o presidente francês, Emmanuel Macron (D), durante a cerimônia da reabertura da Catedral Notre-Dame de Paris. Em Paris, em 7 de dezembro de 2024. (Foto de Thibault Camus/POOL/AFP) AFP – THIBAULT CAMUS

“Realizar o impossível”

Novos móveis litúrgicos minimalistas em bronze maciço castanho modernizam os ares do edifício construído nos séculos XII e XIII, com quase 150 metros de comprimento e cerca de 50 metros de largura, cuja nave se eleva a mais de 40 metros de altura. Notre-Dame de Paris é uma obra única da arquitetura medieval e será preservada.

“Esta noite, os sinos de Notre-Dame tocam novamente, música de esperança tão familiar aos parisienses e ao mundo”, disse em seu discurso o presidente francês. “Eles soam, como soaram para os reis da França”, seguiu Emmanuel Macron, citando outros momentos marcantes da história do país. Um som que por pouco não ficou no passado, alertou o chefe de Estado. “Esses momentos em que tudo podia ter desaparecido”, lembrou, antes de destacar a união em torno da reconstrução da catedral e as doações vindas de todas as partes do mundo.

“A metáfora feliz do que poderia ser o mundo”, disse o presidente, ao citar ainda a união de profissionais de diferentes especialidades para “realizar este feito”: carpinteiros, vitralistas, escultores, historiadores etc. “Não devemos esquecer que o esforço de cada um conta e que a grandeza da catedral é inseparável do trabalho de todos”, celebrou o presidente francês.

“Descobrimos o que as grandes nações poderiam fazer: realizar o impossível”, continuou o presidente em seu discurso no interior do edifício religioso, reconstruído em cinco anos de obras de extrema complexidade. Só no telhado de Notre-Dame, há madeira de 2.000 árvores, cortadas e trabalhadas a machado, exatamente como se fazia na Idade Média. A estrutura conhecida como “A Floresta”, foi salva das chamas e agora conta com um sistema mais eficiente contra incêndio, com dispersores de água.

“Juntos, vocês tornaram isso possível. Viva Notre-Dame de Paris, viva a República, viva a França”, encerrou Macron.

A catedral Notre-Dame de Paris. Em 7 de dezembro de 2024.
A catedral Notre-Dame de Paris. Em 7 de dezembro de 2024. AFP – CHRISTOPHE PETIT TESSON

Cada um dos presentes têm uma história e lembranças daquela noite de 15 de abril de 2019, quando as imagens do telhado devorado pelo fogo e a queda da flecha da catedral chocaram o mundo. Erguida a partir do ano de 1.163, a catedral Notre-Dame de Paris já foi celebrada por muitos poetas, cineastas e escritores, como Victor Hugo.

Reconstruída de forma idêntica à projetada pelo arquiteto do século XIX, Eugène Viollet-Le-Duc, a famosa flecha se eleva novamente sobre o céu de Paris. No alto dela, um galo dourado contém três relíquias preciosas, enquanto no interior da catedral, os vitrais limpos e restaurados deixam entrar a luz, como há muito tempo não se via.

Além das cores deslumbrantes dos vitrais, as pinturas das capelas, agora realçadas, e a limpeza das paredes de pedra configuram um resultado que surpreendeu até os envolvidos nas obras. É “uma catedral como nunca vimos antes”, elogiou, em entrevista ` à Rádio Franceinfo, no sábado, Philippe Jost, chefe da restauração e que substituiu o general Jean-Louis Georgelin, que morreu em 2023.

“Um espanto total”, afirmou Philippe Villeneuve, arquiteto-chefe de monumentos históricos encarregado de Notre-Dame, à rádio francesa Europe 1. “Terei deixado para trás algo que me orgulha”, descreveu.

No total, segundo o Palácio do Eliseu, foram coletados € 843 milhões para a reforma da Catedral Notre-Dame de Paris. Cerca de € 700 milhões foram gastos nas fases de consolidação e restauração do edifício; os € 140 milhões restantes serão usados para restaurar as fachadas e a cobertura da sacristia.

Esta noite, o órgão voltou a ser ouvido primeira vez desde o incêndio, depois de receber bênçãos e voltar a ser tocado. O instrumento de 13 metros de altura, com três séculos de existência, não foi diretamente afetado pelas chamas, mas seus cerca de 8.000 tubos ficaram entupidos com pó de chumbo e tiveram de ser desmontados e limpos.

O Arcebispo de Paris Laurent Ulrich (C) durante a cerimônia para marcar a reabertura da Catedral de Notre-Dame, no centro de Paris. Em 7 de dezembro de 2024. (Foto de Thibault Camus/POOL/AFP)
O Arcebispo de Paris Laurent Ulrich (C) durante a cerimônia para marcar a reabertura da Catedral de Notre-Dame, no centro de Paris. Em 7 de dezembro de 2024. (Foto de Thibault Camus/POOL/AFP) AFP – THIBAULT CAMUS

Em uma mensagem enviada para a cerimônia, o Papa Francisco pediu “acolher generosamente e gratuitamente” a “multidão” de visitantes que são esperados na catedral. “Notre-Dame em breve será visitada e admirada novamente por uma multidão de pessoas de todas as condições, origens, religiões, línguas e culturas, muitas em busca de sentido para as suas vidas”, acrescenta o texto lido nesta noite.

Mais tarde, os sinos da Catedral Notre-Dame de Paris soaram na capital francesa, para marcar o fim das cerimônias republicana e litúrgica.

Após o evento, um jantar é oferecido no Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.

Domingo (8), estão previstas duas missas, às 10h30 e às 18h30, com as presenças de Emmanuel Macron e de muitas personalidades convidadas, reunindo cerca de 2.000 pessoas.

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