Clauder Arcanjo: PÍLULAS PARA O SILÊNCIO
Águas de março
Não há chuvas de março que lavem tanta omissão. Não há águas de março que arrastem tanta lama desta terra de promissão.
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Noto que, no horizonte limpo pela chuva da madrugada, há um arco-íris, tímido e intrometido, como se a mostrar as cores da esperança para um povo de presente turvo.
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Todo profeta da seca adora, sentado sem fazer nada, anunciar no chão calcinado; ao tempo em que odeia a natureza quando o obriga a plantar no chão molhado.
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As secas de outrora não fizeram nem a décima parte da riqueza dos novos obreiros de hoje; a rasgarem a terra com a utopia dos diques e canais, modernos monumentos da engenharia, para levarem o vento até as eclusas do nada.
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Quando me deito, a (re)ler Vidas Secas e O Quinze, a cabeça se revolta por saber que O Velho Graça e Rachel ainda descrevem temas atuais. “É pau, é pedra…”; e, ainda, não é o fim do caminho.
Clauder Arcanjo