CRESCIMENTO POPULACIONAL E ÊXODO RURAL NO RN
A população do Rio Grande do Norte (RN) seguiu a tendência de evolução mantendo sua trajetória de crescimento no decorrer das primeiras décadas do século XXI. O referido movimento demográfico tem sido marcado pela expansão do número de pessoas vivendo em cidades paralelamente com o persistente esvaziamento do campo na maioria dos municípios do estado.
As estatísticas oficiais indicam que 3.168.027 pessoas habitavam o estado do RN, em 2010. Desse total, 2.464.991 (77,8%) moravam em áreas urbanas e 703.036 (22,2%) residiam no campo. Contudo, passados pouco mais de 10 anos, a situação mudou.
Segundo os dados do último Censo Demográfico do IBGE divulgados recentemente, em 2022, a população potiguar saltou para 3.302.729 habitantes. A maioria desse contingente, 2.707.653 pessoas (82,0%), residia nas cidades. Já o espaço rural abrigava o restante da população, ou seja, 595.076 pessoas (18,0% do total), o menor número registrado desde os anos 1970.
A queda de participação relativa da população do campo no RN reflete o movimento conhecido como êxodo rural. Com efeito, entre 2010 e 2022, dos 167 municípios norte-rio-grandenses, apenas 32 registraram algum crescimento da população rural. Nos demais 135 municípios, entretanto, o êxodo rural foi marcante, resultando em uma perda de 107.960 pessoas, o que significou uma variação média negativa de -15,4% no período de 2010 a 2022.
De maneira geral, os 20 municípios que mais perderam população rural foram: Nísia Floresta (-9.449 pessoas), Macaíba (-8.317), Canguaretama (-7.213), Ceará-Mirim (-6.934), Guamaré (-5.154), São José de Mipibu (-5.095), Touros (-5.058), São Gonçalo do Amarante (-3.548), Maxaranguape (-3.541), Vera Cruz (-3.435), Mossoró (-3.327), Apodi (-2.647), Tenente Laurentino Cruz (-2.416), Rio do Fogo (-2.207), Goianinha (-1.956), Paraná (-1.596), Macau (-1.566), Monte Alegre (-1.502), Caicó (-1.340) e Ipanguaçu (-1.339). Juntos, eles somaram uma perda de 77.640 pessoas.
Note-se que, entre os municípios citados, chama a atenção os casos daqueles localizados no litoral Norte, provavelmente impactados pela expansão dos perímetros urbanos sobre o rural ou pela dinâmica territorial que envolve investimentos em atividades como o Turismo, bastante representativo naquela área, principalmente nas cidades.
No semiárido potiguar, por seu turno, merece destaque os casos de Mossoró, Apodi, Caicó e Ipanguaçu, que são representativos no contexto da agricultura familiar estadual e perderam população rural. Tal resultado pode ter relação com questões socioeconômicas associadas com a dinâmica dos investimentos, públicos e privados, concentrados nas cidades, mas também com questões históricas ligadas às condições naturais dessa porção do estado, como o famigerado fenômeno das secas.
Evidentemente, essas explicações são ainda preliminares, tendo em vista que os dados apresentados não são suficientes para apontar as causas e consequências do fenômeno retratado. Para tanto, é necessário a realização de mais pesquisas minuciosas tanto nos municípios que ganharam, como nos que perderam moradores do rural. Isto possibilitará identificar as contradições e os desafios inerentes a esse processo, que tem afetado o modo de vida de milhares de indivíduos e grupos familiares.
O fato concreto é que o êxodo rural é uma questão social grave que necessita ser enfrentada. Nesse sentido, o RN precisa de uma estratégia ampla de desenvolvimento rural capaz de gerar oportunidades de trabalho, resiliência climática e condições de vida digna para a sua população. Só assim poderemos conter o esvaziamento do campo e diminuir o inchaço de nossas cidades, já estigmatizadas e marcadas por problemas de diversas ordens, a exemplo daqueles ligados à segurança, moradia, saneamento básico, educação, saúde, emprego, etc.
(Professor e pesquisador da UERN)
Francisco Fransualdo de Azevedo
(Professor e pesquisador da UFRN)