Judeu por escolha

Em um de seus tantos escritos, Amós Oz refletiu sobre a escolha de ser judeu. “Em cada geração, o povo judeu tem tido que tomar a decisão de permanecerem judeus. O povo judeu sobreviveu por milhares de anos porque milhões de judeus, através de dezenas de gerações, tomaram decisões pessoais de manter suas identidades”, escreve um dos mais célebres autores israelense.

É verdade que há inúmeras formas de ser judeu, o que faz com que a judeidade não possa ser definida unicamente pelo viés religioso. Cada indivíduo encontra uma maneira distinta de manter-se judeu. A cola que liga cada judeu à sua identidade é o pertencimento.

Talvez, um dos momentos do ano em que tal sentimento apareça de forma mais evidente seja Pessach, quando os judeus lembram a libertação da escravidão do Egito. Para isso, juntam-se em torno de uma mesa e cada família celebra à sua maneira. O Seder de Pessach, para além das ideias de religiosidade e tradição, nos traz a certeza de que estaremos juntos ao que nos é mais familiar e seguro.

Nessa avalanche de sentimentos de insegurança e ameaça que temos vivido nos últimos meses, celebrar Pessach é reafirmar nosso direito de ser quem somos. A frase mais citada pelos judeus desde o 7 de outubro talvez tenha sido “Am Israel Chai”, que significa “o povo de Israel vive”.

Por outro lado, este Pessach tem sido desconfortável, acompanhado de um certo sentimento de culpa. Talvez nunca a identidade judaica tenha sido tão questionada, seja este um questionamento interno ou algo que vem de fora, em forma de antissemitismo.

O que é celebrar a liberdade, enquanto há israelenses feitos reféns em Gaza? E tantos palestinos presos em Gaza, em meio à guerra?

O Seder de Pessach tem uma tônica de grande alegria, de comemoração pela história judaica, mas também pelo bem que nos faz estar em família. Ao mesmo tempo, quanta felicidade podemos nos permitir sentir quando tantas famílias perderam seus entes queridos desde aquele 7 de outubro, sejam elas israelenses ou palestinas?

Pessach é uma festa judaica com mais perguntas do que respostas – mas, possivelmente, todas sejam.

Diz Amós Oz: a identidade apenas tem sentido quando a pessoa tem a permissão de partir. Apenas quando cada indivíduo toma a decisão de manter sua identidade e não mudá-la.

É muito judaico questionarmos nossa própria judeidade e termos a opção de não retornarmos. Em todos estes séculos, o povo judeu vive porque tantos, após se questionarem, decidem comemorar Pessach uma vez mais.

Editorial do Instituto Brasil Israel

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