Moscou admite aumento na mortalidade por covid-19 que não aparece nos números oficiais russos

Agora que Moscou sai gradualmente de um regime de confinamento severo e em meio às críticas pela falta de transparência em nível nacional e a suspeitas de que existe interesse político para acelerar a reabertura —em 1º de julho será votada a grande reforma constitucional que pode perpetuar presidente russo, Vladimir Putin, no poder até 2036—, os números da capital revelam as costuras de suas estatísticas. Mesmo assim, o Departamento de Saúde de Moscou destaca que a letalidade por coronavírus durante “todo o período da epidemia”, em que a cidade registrou 199.785 infectados, é “indubitavelmente mais baixa” do que em outras cidades do mundo similares: “Cerca de 2% se levarmos em consideração os casos em que foi a razão principal e 3,8% considerando os casos em que a covid-19 foi a doença primária ou secundária”. Segundo a análise dos números, de fato a letalidade em Moscou é menor, mas as informações usadas como comparação e que afirmam ser proveniente dos “portais oficiais das cidades” —10,7% em Nova York, 22,7% em Londres, 15,2% em Estocolmo e 21,5% em Madri— não são reais. Na capital da Espanha não existe uma página oficial que apresente esses dados e a letalidade está situada em torno de 12%, segundo os cálculos com os dados do Ministério da Saúde. As análises e estimativas mais atuais em nível internacional que levam em consideração os estudos de soroprevalência e que são considerados os mais corretos, situam a letalidade do vírus em cerca de até 1,9% em Madri.
A Rússia tem o terceiro maior número de casos de coronavírus do mundo, com 493.657 infectados contabilizados e um aumento diário de mais de 8.000 novos casos há semanas. Está atrás de Estados Unidos e Brasil. No entanto, seu número de mortos é um dos mais baixos: 6.358, um dado que levanta muitas suspeitas, mas que as autoridades defendem enumerando as medidas de precaução tomadas muito cedo, como o fechamento de fronteiras e a obrigação de quarentena antes para as pessoas que chegavam do exterior. O Kremlin quer mostrar sua vitória contra o coronavírus e apresentar a Rússia como um exemplo em nível internacional.
“Graças aos dados de Moscou, vemos a situação real e que os números reais são entre duas e três vezes maiores do que os oficiais e que quase todo o excesso de mortalidade que está sendo observado em algumas regiões se deve ao coronavírus”, aponta Borís Ovchinnikov, analista de dados da consultoria Data Insight. O fato de esses casos não estarem sendo incluídos nas estatísticas federais é uma pergunta que as autoridades devem responder”, acrescenta.
Fonte El País