Na China, Lula pede que EUA ‘parem de incentivar a guerra’ na Ucrânia

 

Ao final de sua viagem à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse neste sábado (15, no horário local de Pequim) que é preciso que os Estados Unidos parem de “incentivar” a guerra na Ucrânia.

“É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz pra que a gente possa convencer o Putin e o Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só tá interessando, por enquanto, aos dois”, disse Lula em referência aos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymir Zelensky.

A declaração de Lula foi feita na saída do hotel onde a delegação brasileira ficou hospedada, em uma área nobre da capital chinesa, Pequim. Foi a única declaração direta à imprensa de Lula ao longo da viagem à China.

Lula disse que, na conversa que teve com o presidente chinês, Xi Jinping, voltou a defender a ideia de criar um grupo de países que possa intermediar a crise na Ucrânia. Lula não disse, contudo, se Xi Jinping aprovou ou não a ideia de criar o grupo proposto pelo brasileiro.

“Eu tenho uma tese que eu já defendi com o Macron (Emmanuel Macron, presidente da França), com o Olaf Scholz (chanceler alemão) e com o Biden (Joe Biden, presidente dos Estados Unidos) e ontem, discutimos longamente com o Xi Jinping. É preciso que se constitua um grupo de países dispostos a encontrar um jeito de fazer a paz”, afirmou o presidente brasileiro.

A Ucrânia foi invadida por tropas russas em fevereiro de 2022.

Desde então, países europeus e os Estados Unidos vêm fornecendo ajuda financeira e militar para as tropas ucranianas, inclusive como envio de armas, aviões e tanques de guerra.

Segundo Lula, é preciso que os países envolvidos no conflito parem de enviar armas para a guerra.

“Somente quem não está defendendo a guerra é que pode criar uma comissão de países e discutir o fim dessa guerra. É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Rússia. É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Ucrânia. Mas é preciso sobretudo convencer os países que estão fornecendo armas e incentivando a guerra a pararem”, disse o presidente brasileiro.

Lula não entrou em detalhes sobre como o presidente chinês recebeu a proposta brasileira, mas afirmou que a China estaria disposta a procurar uma solução para o conflito. O país é um importante parceiro comercial e político da Rússia. Em fevereiro, o governo de Xi Jinping lançou um plano destinado à paz na Ucrânia.

“É preciso, agora, paciência. É preciso encontrar no mundo países que estejam dispostos. O Brasil está disposto. A China está disposta. Temos que procurar outros aliados e negociar com as pessoas que podem ajudar esse país (a Ucrânia)”, disse Lula.

As declarações de Lula sobre o papel dos Estados Unidos em relação ao conflito acontecem numa sequência de demonstrações de que o Brasil pretende aumentar sua proximidade com o regime de Pequim.

E isso ocorre justamente em um momento em que as relações entre China e Estados Unidos estão acirradas. Os americanos vêm fazendo acusações contra os chineses que incluem até espionagem.

Em 2022, o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, afirmou que a China seria o único país na atualidade capaz de “remodelar” a atual ordem mundial.

Na sexta-feira (14/04), Lula já havia dito que contava com a China para “equilibrar” a geopolítica e defendeu uma mudança na “governança mundial”.

Ainda na sexta-feira, Lula também comentou sua visita a um centro de pesquisas da Huawei, uma gigante de tecnologia chinesa que foi banida dos Estados Unidos por, segundo o governo americano, representar uma ameaça a sua segurança nacional. Ao falar sobre sua ida à empresa, Lula disse que “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”.

Questionado sobre se teme alguma reação americana por conta dos seus últimos movimentos diplomáticos, Lula negou que esteja preocupado.

“Não há nenhuma razão para isso. Quando eu vou conversar com os Estados Unidos, eu não fico preocupado com o que a China vai pensar da minha conversa com os Estados Unidos. Eu estou conversando sobre os interesses soberanos do meu país. Quando eu venho conversar com a China, eu também não fico preocupado com o que os Estados Unidos estão pensando”, disse o presidente antes de embarcar de volta para os Emirados Árabes Unidos, que fica na rota de retorno ao Brasil e onde o presidente fará uma visita de algumas horas.

Leandro Prazeres

Role,Enviado da BBC News Brasil a Pequim

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