Não Era de Aquário

Alex Medeiros – Tribuna do Norte
@alexmedeiros1959

(Por Emma Thomas)

Querido Alex, lembra da letra daquela canção que embalou nossa geração nas rádios e nas telas do cinema com o filme de Milos Forman? – “Quando a Lua estiver na sétima casa / e Júpiter alinhar-se com Marte / então a paz guiará os planetas / e o amor dirigirá as estrelas”. Pois é, por décadas acreditamos que seria daquele jeito, guardamos as imagens do Jon Savage na aventura do filme Hair e tínhamos a certeza de que entraríamos tranquilos na Era de Aquário.

O problema, data vênia nossos escritores e esotéricos de juventude, é que desde 2020 o mundo foi jogado no caos e para nossa surpresa de nada valeu a tão singular ocorrência celestial na grande conjunção de Saturno e Júpiter, os dois gigantes da Via Láctea, num encontro que acontece a cada 800 anos sob o signo de Aquário, segundo dizem os estudiosos da astrologia, como Omar Cardoso – na nossa meninice – ou Bárbara Abramo nos áureos anos 1980.

Veja que Júpiter ficou em Aquário durante um ano, enquanto Saturno ficou por dois anos e meio. Nos últimos dois séculos, cada vez que eles convergiram se encontraram em um signo de Terra, exceto em 2020 com o ar de Aquário.

Pois bem, de lá para cá foi retomado o antigo debate sobre a data de início da Era de Aquário, com alguns estudiosos dos astros dizendo que começaria no equinócio de inverno em 20 de março de 2021, durante o auge da pandemia.

Foi impossível não lembrar de que a decantada era sempre foi associada a um tempo de esperança e de inovação, já que quando ocorreu pela última vez, no século XIX, tivemos uma época de revoluções em tecnologia e indústria.

Na literatura paracientífica, Arago publicou em 1862 A Astronomia Popular; Camille Flamarion escreveu a Pluralidade dos Mundos Habitados e o grande Júlio Verne nos deixou Da Terra à Lua e o idioma da ciência foi o francês.

Nossos antepassados aprenderam que Aquário era uma constelação e também um signo do zodíaco, e que entrar na sua era significava ver o Sol se erguer no equinócio da Primavera, a estação da dádiva da vida na natureza.

Foi a partir daquela conjuntura que as teses da Era de Aquário avançaram pelo século XX adentro e foram se estabelecer nos dias da nossa geração, juntando ciência, política e cultura pop num caleidoscópio de sonhos e revoluções.

Crescemos acreditando que a perspectiva da chegada da Era de Aquário nos traria o fim da ilusão humanista e teríamos, de fato, uma realidade de equilíbrio cultural e harmonia emocional. Nunca tantos discos e livros nos disseram isso.

Mas, vamos lá. Como se não bastasse o encontro de Júpiter e Saturno em 2020, abrindo as portas do inferno da Covid, eis que agora tivemos o fenomenal alinhamento de sete planetas, cinco anos depois do duplo encontro.

E o que nós temos de real é tudo quanto é oposto à Era de Aquário sonhada na juventude. Não dá pra gente cantar de novo a música de Galt MacDermot, nem nos reunirmos em rodas de flauta e incenso e lendo a Linda Goodman.

emo que o grande alinhamento do fevereiro bissexto veio só coroar essa época de insanidade, aberração ideológica e desalinhamento de emoções humanas. Medo da Era de Aquário abrir-se com algo grande e tenebroso.

Beijos quânticos! (ET)

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