O som de todos os natais

por Redação Tribuna do Norte

Alex Medeiros
@alexmedeiros1959

Independente do aspecto religioso, a temporada de festas de fim de ano provoca no mundo um clima de leveza mental com direito a um cenário alegre e solidário espalhando cores e luzes desde as primeiras semanas de novembro até princípio de janeiro. E glamourizando tudo isso está uma trilha sonora que se renova pelos anos afora, aumentando o belo repertório das canções de Natal. Em todos os tempos, tais músicas icônicas são sempre essenciais.

Os cânticos natalinos surgiram na Europa há milhares de anos, mas não como as músicas que nos acostumamos a ouvir. Eram ritos pagãos, saudando o solstício de inverno e a colheita, como a festa Saturnália dedicado ao mitológico deus Saturno. Foram os cristãos primitivos que trocaram a festa pagã pela celebração do nascimento de Jesus e através dos mosteiros inseriram a data e novas canções no contexto social e cultural de Roma.

Ao longo dos séculos a tradição foi avançando, inclusive com a figura de São Francisco de Assis tendo participação nos ritos e se tornando o inventor do presépio como um dos ornamentos das festividades junto à árvore de Natal.

Desde o século 19, a sonora mensagem natalina como conhecemos tem na canção “Noite Feliz” a condição inaugural quando em 1818 um jovem padre austríaco encomendou ao tocador de órgão da igreja uma melodia para violão.

O padre escreveu a letra, ensaiou a canção com um grupo de crianças e surpreendeu a cidade de Oberndorf com o improvisado coral na missa de Natal da igreja de São Nicolau, exatamente o santo que deu origem ao Papai Noel.

Em 1843, outro padre, francês, pediu a um poeta que fizesse uma canção de Natal. De tão bonita, “O Holy Night” encantou a França inteira e se espalhou pela Europa, sendo motivo de um fato histórico para a paz entre os homens.

Na noite de Natal de 1871, em plena Guerra Franco-Prussiana, um soldado francês saiu da trincheira cantando a canção. Após um silêncio, um homólogo alemão também cantou uma canção natalina alemã e deu-se um cessar-fogo.

Algumas letras e canções de natal foram feitas separadas por anos. A música ”Ding Dong Merrily on High” é de meados de 1500, mas a letra foi escrita em 1800. E “Good King Wenceslas” é uma melodia de 1200 com letra de 1800.

A popularíssima “Jingle Bells” foi originalmente intitulada “The One Horse Open Sleigh” quando composta por James Lord Pierpont em 1857. Não foi bem recebida pelos ouvintes e levou muitos anos para se tornar o clássico que é.

Estima-se que há mais de 10 mil canções de Natal, somando-se as antigas “caroles” (termo francês para o gênero) e hinos cristãos harmonizados por sinos e órgãos de igrejas. De todos os tempos, elas são unguentos da alma.

Com foco no nascimento de Cristo, elas carregam também uma mensagem de esperança, alegria, solidariedade e amor. São também uma poderosa indústria de estímulo ao comércio e representam boas chances de sucesso discográfico.

Eu fui fisgado pelas canções natalinas na primeira infância quando as poucas rádios da cidade-presépio executavam hits o dia todo, como “Anoiteceu”, “Noite Feliz”, “Natal das Crianças”, “Sapatinho de Natal”, e “Bate o Sino Pequenino”.

E desde então sempre fui um ouvinte fiel durante a festa da Cristandade, mesmo não sendo cristão e nem seguir qualquer outra doutrina religiosa. Gosto das canções por seu conteúdo de ternura, de paz e tão misticamente humano.

Todos os anos, encho a casa da sonoridade natalina, destaco do acervo de vinil alguns velhos e novos LPs do gênero e boto para tocar nas noites dos dias 24 e 25. E trabalho diariamente com o YouTube tocando as muitas playlists.

E hoje aproveito para dividir com os 300 espartanos leitores meu saudosismo natalino elencando minhas dez favoritas canções que pincelei da enorme lista de tantas que todos nós julgamos maravilhosas, mas incabíveis na coluna.

1 – “Jingle Bell Rock”, o clássico imortal do cantor Bobby Helms que compôs a música para o Natal de 1957 e se tornou um hit obrigatório pelas décadas afora. Quando eu nasci, em 1959, era o grande lançamento nas rádios daqui.

2 – “White Christmas”, criada em 1942 por Irving Berlin para o filme “Holiday Inn” e gravada por Bing Crosby. Desde a Segunda Guerra que ela volta ao topo das paradas regravadas por grandes nomes da música moderna internacional.

3 – “Last Christmas”, um gigantesco sucesso contemporâneo lançado em 1984 pela dupla inglesa Wham, formada por George Michael e Andrew Ridgeley. É desde então uma das primeiras colocadas entre as mais tocadas no período.

4 – “All I Want for Christmas Is You” de Mariah Carey já é quase a cara do Natal para quem se entendeu como gente a partir de 1994 quando ela lançou o que seria um dos maiores sucessos de toda a sua carreira. É obrigatório ouvi-la.

5 – “Let It Snow!”, gravada em 1945 por Vaughn Monroe e lançada no Dia de Ação de Graça acabou se tornando símbolo do Natal. Explodiu em 1959 com Dean Martin e foi cantada por Bing Crosby, Frank Sinatra e até Rod Stewart.

6 – “Rockin Around the Christmas Tree” é um rock para a árvore de Natal, composta por Johnny Marks e gravada por Brenda Lee em 1958 (contei a história há poucos dias). É um sucesso atemporal que se renova nas paradas.

7 – “Feliz Navidad” é atemporal desde 1970 quando o porto-riquenho José Feliciano invadiu as ondas do rádio e as telas da TV pelos EUA afora. Dividiu com os rocks dos anos 70 a preferência de quem gravava tudo em fita-cassete.

8 – “Happy Xmas” é uma obra que provou em 1971 que John Lennon continuava genial longe dos Beatles. Lançada como um single de protesto à Guerra do Vietnã, tocou o coração do mundo e se tornou um hino do Natal.

9 – “Do They Know It’s Christmas?” é a versão natalina de “We Are The World”, mas feita um ano antes, em 1984, por Bob Geldof para combater a fome na Etiópia. A gravação original é da Band Aid com diversos astros pops.

10 – “Blue Christmas” foi gravada em 1948 pelo cantor de country e ator de faroeste Doye O´Dell e regravada por muita gente até que em 1957 estourou na voz de Elvis Presley, sendo a canção de Natal preferida do rei do blue/rock.

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