PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCCIV)
Clauder Arcanjo*
(Obra de Sérvulo Esmeraldo)
Para Antônio Eduardo Gonçalves Esmeraldo
(in memoriam)
As violetas floresciam, e dentro em pouco também os novos grilos nasceriam e cantariam.
(Yasunari Kawabata, em Kyoto)
Tenho uma notícia presa na garganta, mas a voz não me atende.
Há um riso no ar, apesar da dor que poderá surgir caso eu a profira.
Noto que o céu está mais azul do que nos últimos dias, como se nele houvesse incrustada uma singularíssima esmeralda.
Um calor preenche o vazio desta sala, e eu baixo a cabeça, carregado de lembranças vívidas.
Pouco depois, a convicção de que a vida pode ter como certeza maior a morte; porém ela não nos pesará tanto caso a tenhamos percorrido com um sorriso breve e solidário nos lábios tortos.
— Não deixe de mandar lembranças para o Moreira Neto, amigo!
E uma risada irrompe na calma e abafada manhã.
& & &
Entramos na reunião carregados de informações e saímos dela cheios de dúvidas, assim como dispostos a dirimi-las com aqueles que nos rodeavam.
& & &
Sentou-se em uma das margens da estrada, após parar sua bicicleta no acostamento.
Apurou os ouvidos, fechando os olhos por um instante. Na certeza de colher o pio de uma ave que lhe trouxesse à memória o Cariri da infância.
— “Só deixo o meu Cariri no último pau de arara…”
& & &
Quando lhe levavam intrigas contra os amigos, ele desacreditava-os, impingindo-lhes a ironia que desmonta a maldade dos medíocres.
Toda intriga será castigada, pensava, rodriguianamente.
& & &
Na última vez em que nos vimos, abraçou-me, parabenizando-me pela teimosia literária que me acompanha.
Soprei-lhe aos ouvidos que aprendera alguns dos mais valorosos atributos da teima quando estive sob a sua regência.
& & &
Leio uma passagem de Conceição Evaristo, em Canção para ninar menino grande: “Creio mesmo que não devemos desprezar as minúcias de um relato, se quisermos nos aproximar o mais possível da história em sua quase totalidade.” Portanto, Esmeraldo, precisarei de mais tempo, e menos dor, para que a minha pena se expresse melhor.
Na varanda, olhando o horizonte, Companheiro Acácio e o gato Nabuco silenciam em respeito à minha saudade.
* é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
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Entramos na reunião carregados de informações e saímos dela cheios de dúvidas, assim como dispostos a dirimi-las com aqueles que nos rodeavam.
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Sentou-se em uma das margens da estrada, após parar sua bicicleta no acostamento.
Apurou os ouvidos, fechando os olhos por um instante. Na certeza de colher o pio de uma ave que lhe trouxesse à memória o Cariri da infância.
— “Só deixo o meu Cariri no último pau de arara…”
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Quando lhe levavam intrigas contra os amigos, ele desacreditava-os, impingindo-lhes a ironia que desmonta a maldade dos medíocres.
Toda intriga será castigada, pensava, rodriguianamente.
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Na última vez em que nos vimos, abraçou-me, parabenizando-me pela teimosia literária que me acompanha.
Soprei-lhe aos ouvidos que aprendera alguns dos mais valorosos atributos da teima quando estive sob a sua regência.
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Leio uma passagem de Conceição Evaristo, em Canção para ninar menino grande: “Creio mesmo que não devemos desprezar as minúcias de um relato, se quisermos nos aproximar o mais possível da história em sua quase totalidade.” Portanto, Esmeraldo, precisarei de mais tempo, e menos dor, para que a minha pena se expresse melhor.
Na varanda, olhando o horizonte, Companheiro Acácio e o gato Nabuco silenciam em respeito à minha saudade.
*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.