PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCCIX)
Clauder Arcanjo*
(Quadro “A aula de dança”, de Edgar Degas)
É curioso, no entanto, como às vezes muito tempo pode se passar até que as palavras habitem as coisas (…)
(Nathaniel Hawthorne, em A letra escarlate)
De tão curioso, Adamastor quebrou o ovo e, assim, perdeu o pinto.
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No entanto, entre tantos entretantos, ele encarou o espanto e mergulhou nas águas de outros encantos.
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De tanto esperar a sua vez, sereno e cordato, Calmílio percebeu que aqueles supostos amigos não esperariam nem respeitariam a sua vez.
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Tempo de calmaria é sinônimo de preguiça e desperdício para quem se prepara para o audacioso exercício de navegante.
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O poder jamais emanará do povo: eis a crença dos governantes que assumem o comando da nação com foros de cobiça, disfarçados de altruístas.
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Todo passado é uma fonte inesgotável de denúncia contra os moralistas.
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O verdadeiro escritor nunca descansa na busca incansável da palavra supostamente justa para ocupar o seu posto inglório na sentença inexata.
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Há coisas na vida que mais se assemelham a fogos-fátuos nas glórias incensadas.
Tolo é aquele que se encantar com o ouropel em vez do prêmio justo.
*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.