PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCCXXIX)

Clauder Arcanjo*

(Mulher leitura, pintura de Pablo Picasso)

Sobrou nas contas dos amigos, pois sempre exorbitou na ganância pessoal.

 

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Talvez subsistisse na lembrança dos seus, caso não houvesse esquecido até de si mesmo.

 

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Daria um ótimo aprendiz, quem sabe até um mestre promissor, se ele não outorgasse a si o falacioso dom da autossuficiência.

 

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Fez quando quis, perdeu quando renunciou, cedeu quando abusou… E, ao perceber na velhice o seu mísero legado, não havia mais tempo de refazer o caminho.

 

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Soltou bravos gritos antes de conhecer a fera: ninguém é valente por antecipação.

 

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Cada casa com o seu telhado, cada rebanho com o seu pastor, cada politiqueiro com a sua arraigada demagogia.

 

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Depois de seguidas derrotas, aprendeu a reconhecer o supremo valor de um digno inimigo.

 

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Dai a vós o que vos interessa. Assim portando-se, merecereis ao menos o respeito dos avessos ao fingimento.

 

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Indagava tanto aos outros sobre o próprio sucesso, que tamanha inquietação manchou indelevelmente o seu brilho.

 

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.