PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCCXXXII)
*Clauder Arcanjo
(Cristo na tempestade do Mar da Galileia, pintura de Rembrandt)
Paulino Condespo cuspiu de lado, enxugou os lábios grossos e disparou:
— Não queria. Mas, vocês sabem. Se não, imaginam. Pois é. Saber que se tornará avô põe a gente, assim. Assim, zonzo. Vocês nem podem sonhar. Só quando viverem o que estou sentindo.
— Mas, pai, não se emocione tanto!
— E quem disse que estou emocionado, filha? Ora! Avô?! Ou melhor, vovô. Não, prefiro vovozinho. Ou vozinho? Painho?!…
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Partiu em busca de tanta coisa que se esqueceu de garantir o que já tinha. O que lhe fora próximo não era julgado com o valor devido.
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Ana Mancrúcia sofria de desmaios frequentes. Certa noite, Mancrúcia, após passar por mais um piripaque, foi levada às pressas para o posto de saúde de Licânia:
— Vamos examiná-la, minha senhorita. Precisarei auscultá-la — comunicou o jovem médico.
E, ao sentir o ritmo daquele peito, o doutor… desmaiou.
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Pôs tudo no seu canto certo: livros nas estantes, roupas nas gavetas, cereais na despensa. Após concluir, sentou-se na cadeira ao centro da sala e ficou incomodado. Como se agora estivesse sem lugar naquela casa.
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A altura de uma mesa já é um Himalaia para qualquer sapo.
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Condecoração demais atrofia a pena do mais exímio cronista.
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*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.