PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCCXXXIII)
Clauder Arcanjo*
(Senecio, pintura de Paul Klee)
Pus a mesa. Antes de me sentar, a ordem:
— Mesa para dois, por favor.
— Companheiro Acácio!… Que grata surpresa. Será uma honra almoçar com você, amigo — saudei-o.
Ele nada mais falou. Lavou as mãos e em seguida, silente, aboletou-se na cadeira.
Tentei puxar conversa: nada consegui extrair daquela visita inesperada. Resolvi, então, servi-lo. Acácio comeu frugalmente, como de costume.
Retirei-me para preparar um café e pude ouvir o arrastar da sua cadeira. Com certeza, ele seguira para a rede armada na varanda.
Quando o café alastrava seu cheiro forte por toda a casa, ele confessou-me em tom soturno:
— Estou preocupado com a situação da Ucrânia e do Oriente Médio. O mundo caminha para um…
E não concluiu, como se revelar o risco em palavras o tornasse mais real.
Após o café, pediu-me licença e fechou os olhos. Daí a pouco Companheiro caiu em sono profundo.
Pensei comigo mesmo: “Graças a Deus que a situação não entrou em condição crítica, pois Companheiro Acácio ainda não perdeu a sesta!”.
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Para todo ser destrambelhado, o caminho impossível é o traçado em linha reta.
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Almas que não se completam sempre juram que a paixão é insuficiente para unir os opostos.
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Pai de menina é ciumento com a filha. Mãe de menino é possessiva. Enfim, entre ciúmes ou diante das posses, a família se revela.
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Quem almoça com o desperdício em poucos anos janta com a fome.
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Cavalgar sobre chão de espinhos torna o cavaleiro mais apegado à sela.