Vale tudo? — A pergunta que nunca saiu de cena
Em 1988, Vale Tudo parou o Brasil com uma pergunta que atravessou gerações: vale tudo por dinheiro?. A novela não era só entretenimento — era um espelho. Raquel, com sua honestidade inabalável, e Maria de Fátima, com sua ambição sem limites, encarnavam dois caminhos opostos numa mesma sociedade. A pergunta final de cada capítulo não era retórica: era provocação.
Hoje, com o remake apresentado pela Rede Globo em 2025, essa pergunta retorna com ainda mais força. E mostra que, em tempos de redes sociais, filtros e fama instantânea, talvez estejamos vivendo uma nova versão do mesmo dilema — agora turbinado pela necessidade constante de aparecer.
Se antes valia tudo por dinheiro, agora parece que vale tudo por um like, por um seguimento, por um engajamento. A exposição virou capital. A imagem, moeda. A ética, muitas vezes, um detalhe descartável. Em busca de visibilidade, vale mentir, manipular, atacar, encenar uma vida que não existe. Vale se vender — ou vender os outros.
A nova Vale Tudo escancara que seguimos convivendo com a sedução do atalho, com o culto à esperteza, com a indiferença diante do que é certo. A diferença é que, agora, os capítulos não são exibidos só na TV: eles estão nas timelines, nos reels, nos stories — nos gestos que viralizam enquanto os valores se esvaziam.
A sociedade da vitrine permanente exige respostas urgentes. Porque, se tudo passa a valer, o que ainda tem valor?
Rever Vale Tudo hoje é rever o Brasil — e a nós mesmos. É questionar que tipo de sucesso estamos buscando e a que custo. É lembrar que caráter não é efeito de filtro, e que dignidade não se compra, não se troca, não se posta.
Então, a pergunta precisa ecoar mais forte do que nunca:
Vale tudo por dinheiro? Vale tudo por fama? Vale tudo por um like?
Ou será que, no fim, só vale a pena quando vale a verdade?
Por Joyce Moura – jornalista
@joycemourarealize